Já circulou muito por aí que uma concessionária de Blumenau (SC) está vendendo uma unidade do Uno Ciao, versão de despedida do compacto da Fiat, por inacreditáveis R$ 110 mil.
Não é piada, a revista Quatro Rodas apurou essa história. Limitada a 250 unidades, a versão de despedida já custava caro, R$ 84.990, e não trazia muito mais que o pacote regular Attractive, vendido por R$ 68.490.
Mas, enfim, a grande questão é: existe algum motivo para que o Uno Ciao seja um veículo especial ou colecionável?
É óbvio que não! Para começar que essa segunda geração do Uno não se tornou um clássico, como o Uno “quadrado” de primeira geração.
Porém, nada contra o modelo. Apesar de não ter sido muito compreendida, essa segunda geração do Uno foi uma releitura muito interessante do modelo clássico. Seu conceito de design foi batizado de quadrado-redondo, uma alusão ao bom aproveitamento de espaço em um compacto de linhas retas com a adição do charme das quinas amenizadas.
E, dentro de sua proposta, o modelo ainda tinha “lenha para queimar”. O design era interessante, o motor, sim, fraco, porém econômico e com baixo custo de manutenção. Muito mais espaçoso que o Fiat Mobi e com bom comportamento dinâmico, muito diferente do Renault Kwid, que nas duas versões que vieram para teste mais parecia estar estragado.
Mas, provavelmente por questões de custo, a Fiat preferiu “empurrar” o Mobi para seus clientes e enterrar o Uno. Aliás, nesse último ano, 97% do volume de vendas do Uno foi feita na modalidade corporativa, principalmente para frotistas.
RELEITURAS Apesar de fazerem grande sucesso no mercado desde o início do ano 2000 – a exemplo de muscle cars como Mustang, Camaro e Challenger, de compactos como Cinquecento, Mini e Fusca, ou mesmo o recente Ford Bronco –, as releituras não tendem a ser tornar valorizadas justamente por lhe faltar o contexto histórico original dos clássicos.
A própria renovação dessas releituras denunciam que elas envelhecem mal. Veja o exemplo de um Chevrolet Camaro 2009, de quinta geração, que foi a releitura do modelo original de 1967 e fez muito sucesso. Note como ele parece decadente ao lado de um Camaro de sexta geração, enquanto o modelo clássico só melhora com o passar do tempo.
OUTRAS DESPEDIDAS As mais recentes tentativas de lucrar em cima da despedida de modelos realmente cultuados, o que não é o caso do Uno Ciao, não foram de muito sucesso.
O Uno clássico deu adeus no finalzinho de 2013 com a versão Grazie Mille, limitada a 2 mil unidades numeradas. Já bastante espartano em sua despedida, o modelo ganhou rodas de liga leve com 13 polegadas, sistema de som com subwoofer, tapetes acarpetados, além de bancos e portas com revestimentos mais requintados.
Pelo menos até ontem, o carrinho não se valorizou muito. De acordo com a tabela Fipe, o preço médio do Grazie Mille é R$ 35.417, enquanto uma versão Economy 2013 custa hoje R$ 25.277.
A Volkswagen também se complicou na despedida da Kombi. Inicialmente a marca anunciou 600 unidades da versão Last Edition, com preço fixado em meados de 2013 a R$ 85 mil. Logo o número de unidades numeradas da série comemorativa dobrou para 1.200, provocando a ira de quem apostou na escassez que costuma valorizar os produtos.
A Kombi Last Edition trazia pintura “saia e blusa”, rodas e calotas pintadas de branco, além de pneus com a faixa branca. Os bancos ganharam forração em vinil azul Atlanta, com faixas centrais brancas, cortinas e carpete revestindo o assoalho e o porta-malas.
Também segundo a Fipe, a Kombi Last Edition tem hoje preço médio de mercado de R$ 123.361, enquanto uma Standard 2013 custa R$ 48.187. Isso não impede que em sites de anúncio anunciem a série especial a R$ 200 mil, em unidade com pouco mais de 3 mil km rodados que parece nunca ter tocado o chão. Da mesma forma, existe uma disponível por R$ 105 mil, com 48 mil km, muito bonita, mas com marcas de uso. Porém, no valor médio, o modelo ainda não valorizou tanto.
TEMPO REI Já o Uno Ciao promete mesmo é se desvalorizar, ainda mais quando comprado com ágio de R$ 25 mil. O bom dessa história é que a unidade em questão está numerada, trazendo no painel a plaquetinha “Uno Ciao 234/250”. Mas, só o tempo é soberano e dirá se esse investidor é um gênio ou mais um bobo com dinheiro para gastar.