Quem passa em frente a um discreto galpão na Região Leste de Belo Horizonte não imagina o rico acervo preservado lá. O amplo local é completamente tomado por veículos antigos e milhares de objetos diversos, que ajudam a contar a história do design, do comportamento e do consumo, pelo menos desde o final do século XIX até os anos 1970. A boa notícia é que esse acervo será transformado em museu na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
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A coleção pertence ao bioquímico Jeferson Rios, que já acumula mais de 30 anos de descobertas de raridades em ferro-velhos, antiquários e leilões. Ele possui 40 veículos antigos e pelo menos 7 mil itens catalogados. A impressão é que acervo é bem maior. “É como atravessar um rio. Até a metade é preciso remar forte. Depois, basta deixar a corrente levar o barco. Hoje em dia nem preciso correr tanto atrás: muitas pessoas já sabem da coleção e lembram de mim quando encontram algum objeto”, brinca o colecionador.
O principal mote para aquisição, tanto de veículos como dos objetos, é a inspiração no cinema ou personalidades famosas. Assim, repousa uma réplica idêntica do Porsche 550 Spyder, famoso pelo acidente que matou o ator James Jean. O veículo já foi exposto no museu da marca na Alemanha. Da mesma forma se explicam duas woodies, utilitários Chevrolet dos anos 1950 com carroceria de madeira. Uma clara referência aos filmes de surf na Costa Oeste dos Estados Unidos.
Entre as raridades, há uma barata de corrida Chrysler 1925. Também chamam atenção uma jardineira de madeira 1929, um Ford DeLuxe conversível 1946, um raro Stander Eight 1946 e um belo Jaguar XK120 1951. Um ônibus Chevrolet Marta Rocha 1957 em fase final de reforma recebeu um bar na última fileira de bancos. A maioria dos veículos foi comprada em estado de sucata e restaurada pela equipe de Rios.
Há ainda a inspiração bélica. Jeferson preserva jipes e um Dodge ‘Pata-Choca’ 1942 utilizados na Segunda Guerra Mundial. Uma curiosa peça, recém-adquirida, é um reboque-cozinha, utilizado para fornecer refeições aos militares. O acervo também contempla mochilas, capacetes aliados e nazistas e até mapas originais dos cenários de batalha.
O colecionador recebeu a reportagem do Vrum em seu escritório. Todas as paredes têm estantes, quadros e nichos com miniaturas e relíquias. Em um setor, há quatro relógios no estilo Art Déco. A mesa de centro com estilo modernista pertenceu ao ex-presidente Juscelino Kubitschek: o tampão esconde uma roleta de jogo, enquanto o pé único revela um minibar.
Vários equipamentos, eletrodomésticos e objetos têm sua história completa no local. É possível observar, por exemplo, a evolução das geladeiras desde os primeiros modelos de madeira e gelo, até unidades dos anos 70, passando pelas famosas Frigidaire, comercializadas pela GM. O mesmo pode ser constatado com bicicletas. Jeferson possui dois modelos do século XIX, com a roda dianteira gigante com pedal até magrelas dos anos 70, passando por raridades dos anos 20 e 30 e uma da Segunda Guerra, utilizada pela FEB no conflito e comprada num leilão do Exército. Na ala dos televisores, uma surpresa: o primeiro modelo produzido em série, com tela em preto em branco e apenas um canal. “Comprei por acaso. Quando fomos restaurar a peça, que o técnico me informou da raridade”, conta.
E coleção parece não ter fim. São rádios, telefones, brinquedos, gramofone, bomba de gasolina, lampiões, máquinas fotográficas, relógios… Muitos dos juke boxes do local foram herdados da zona boêmia de BH. Em uma da paredes há uma farmácia completa do íncio do século XX. A peça foi comprada de uma drogaria de Vassouras (RJ). Em outro ponto, há um altar completo de uma fazenda de Bonfim. Por ser tombada, Rios tornou-se ‘fiel-depositário’ do bem junto ao Iepha-MG. O altar será instalado numa capela no Mova.
Museu
Essa rica coleção é restrita a amigos e clientes. Objetos e veículos são alugados para eventos e produções de TV e cinema. Peças que sobraram de restaurações são negociadas com outros colecionadores. No entanto, o acervo poderá em breve ser contemplado pelo grande público. Jeferson Rios comanda o projeto de criação do Museu de Objetos e Veículos Antigos (Mova).
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O lugar já existe: um terreno de 10 mil metros quadrados no condomínio Alphaville, em Nova Lima, a 25 quilômetros de Belo Horizonte. Na verdade, trata-se de um complexo com nove edifícios voltados ao tema. Haverá um bar e restaurante temático no estilo dos anos 1950, galpão de estacionamento para antigos, oficina de restauração, alojamento para funcionários, lojas de antiguidades e peças, sedes de clubes, auditório, espaço multiuso e é claro, o museu para 25 carros.
“Nossa ideia para o museu é de criar enormes dioramas. Cada carro será acompanhando de móveis, utensílios, roupas e objetos que representem a época em questão”, descreve Rios. Outra forma de renda do Mova será o aluguel do espaço para eventos e casamentos. “Outro projeto é o ‘debut’ de veículos. Modelos recém restaurados serão apresentados ao público, numa festa para amigos e membros do clube de antigos”, conta Jeferson.
O Mova ainda não tem data prevista para inauguração. O fundador está captando empresas interessadas em explorar os ambientes e participar do projeto. “Considero esse acervo um cartório de registro da história. É importante mostrar as novas gerações toda a evolução dos veículos e objetos para chegar ao nível de conforto e conhecimento que hoje temos”, analisa.
VÍDEO MOSTRA O PROJETO DO MUSEU, VEJA: