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Chuva - Prejuízos de verão

Motorista deve tomar muito cuidado ao transpor trechos alagados, pois a água pode entrar no motor e provocar calço hidráulico. Conserto é caro e não tem garantia

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Ao transpor área alagada, engate a primeira ou segunda marcha e acelere pouco



No início do ano, o médico Jehad Farah seguia em seu Citroën Picasso, ano 2004, em direção a um supermercado, em Blumenau (SC), quando foi surpreendido por um temporal. A chuva forte provocou alagamento em diversos trechos da cidade. Depois de transpor uma poça d'água, que se formou em frente ao estabelecimento, o motor do carro de Jehad apagou. Ele chamou um reboque e levou o veículo à concessionária da marca na cidade, a Le Monde, e o diagnóstico foi calço hidráulico (veja box). O conserto, que inclui troca de pistãos, bielas e válvulas, foi orçado em R$ 6 mil, valor que está sendo questionado pela seguradora contratada pelo médico, que pediu uma perícia no motor, antes de autorizar o serviço.

A água entre nos cilindros (1, 2 e 3) e, ao tentar ser comprimida pelo pistão (4), empena a biela (5)


Jehad não se conforma. "A poça não era muito profunda, pois a água estava no mesmo nível dos pneus, e atravessei devagar, sem acelerar", explica. Ele questiona se o problema não foi causado pela posição do tubo que capta ar para o motor, que, segundo ele, é muito baixa e fica no mesmo nível do cárter. "Vários carros passaram pelo mesmo local e nenhum deles teve qualquer problema", acrescenta. De acordo com o gerente de pós-venda da Citroën, Eduardo Grassiotto, a tomada de ar não está posicionada na altura do cárter, e sim no mesmo nível da parte de cima do câmbio, o que dificulta a entrada de ar no motor em uso normal.

Montana
Outra vítima do calço foi o técnico em agropecuária João Renato Rabelo. Em dezembro do ano passado, um mês depois de comprar uma picape Chevrolet Montana, quando ia para o seu sítio, em Patrocínio, Alto Paranaiba, o motor do carro também aspirou água e sofreu o chamado calço hidráulico. Rabelo acha que o problema se deve à posição do sistema de captação de ar. "O fato ocorreu depois de uma chuva forte, mas a poça d'àgua tinha apenas cerca de 20 cm de profundidade e 10 m de comprimento. Já tive uma picape Fiat Strada e passei várias vezes sobre a mesma poça, sem nenhum problema", reclama.

O caso da picape de João Rabelo foi analisado pela General Motors, que negou o conserto em garantia, alegando que o problema foi causado por "influências externas, conforme seção 16-6 do Manual do Proprietário". O serviço foi orçado em R$ 4,8 mil. Revoltado, o técnico em agropecuária disse que a GM deveria avaliar melhor o problema, pois se trata de um veículo utilitário, também voltado para uso no meio rural. "Se este veículo não tiver aptidão para o meio rural, terei que vendê-lo", desabafa.

Os dois casos são bons exemplos de que todo cuidado é pouco no verão, quando as chuvas fortes, que provocam alagamentos em ruas, avenidas e estradas, são bastante comuns. Ao atravessar trechos alagados, o movimento de aspiração de ar realizado pelos pistãos pode puxar água para dentro do motor, provocando o temível e devastador (principalmente para o bolso) calço hidráulico, pois as montadoras não autorizam esse tipo de conserto em garantia. Mas nem sempre as montadoras estão isentas de culpa. Devido a problemas de entrada água no motor, a Fiat, por exemplo, reprojetou a tomada de ar do Uno, em março de 2006.

O que é calço hidráulico?
Ao atravessar trechos alagados, a água entra, pelo sistema de captação de ar do motor, na câmara de combustão e no interior dos cilindros. Ao tentar subir, o pistão encontra a enorme resistência da água, que, diferentemente do ar, é pouco compressível. O enorme esforço do pistão provoca o empenamento das bielas, ocasionando o calço hidráulico e, conseqüentemente, o travamento do motor.

Como evitar
1) Evite passar por locais muito alagados. É melhor perder algum tempo do que amargar prejuízo;
2) Se realmente tiver que atravessá-lo, engate uma segunda marcha e mantenha aceleração média e constante, pois isso vai evitar que a força de aspiração do motor seja muito alta, a ponto de puxar água para dentro do motor, e fazer com que o volume de gás expelido pelo propulsor seja suficiente para impedir a entrada de água pelo escapamento;
3) Se o motorista deixar o motor apagar durante a travessia, a primeira recomendação é não tentar fazer com que ele funcione (nem no tranco e nem na chave), pois o motor poderá estar cheio de água e essa atitude poderá provocar o calço hidráulico. O melhor é colocar a alavanca de marchas em ponto morto, empurrar e veículo até um local seguro e chamar reboque, para que seja feita análise em oficina.

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