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Choque na combustão

BMW investe pesado em novas tecnologias e apresenta seus planos de curto prazo, apontando para o uso de carros totalmente elétricos, com boa autonomia, como o Mini E

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De Munique (Alemanha) - Fabricante alemã apresenta seus projetos no segmento de carros elétricos, que já se tornou realidade com o Mini E, um compacto de apenas dois lugares e autonomia de 240 quilômetros, e prossegue com o Série 1 Active E e o Megacity Vehicle, um veículo totalmente novo feito com fibra de carbono e chassi de alumínio. Em teste na Alemanha, o Mini E mostrou que é possível tirar bom desempenho de um motor elétrico sem perder a esportividade.

O futuro da mobilidade nos grandes centros urbanos passa obrigatoriamente pelos carros elétricos. É um caminho sem volta, apesar de pressões de setores interessados na perpetuação do uso de motores a combustão. Mas, o mais interessante é constatar que até os fabricantes de automóveis premium, como a BMW, estão investindo em projetos elétricos, buscando baterias mais leves e eficientes, aumentando a autonomia dos carros. A fabricante apresentou na Alemanha, durante o Innovation Week Mobility of the Future, suas investidas na eletromobilidade, que começou com o Mini E e segue com o Active E e o Megacity Vehicle.

Em 2007, a BMW intensificou as discussões sobre as tendências da mobilidade no futuro. Os estudos da fabricante alemã partiram da percepção de mudanças de valores e preocupação com a sustentabilidade. Foram entrevistadas pessoas em grandes centros urbanos com o objetivo de buscar respostas e soluções para problemas da mobilidade no cotidiano. Rapidamente, constatou-se que as demandas eram diferentes, pois cada cidade tinha sua necessidade. Algumas foram feitas para o automóvel, como Los Angeles, enquanto outras privilegiam o transporte público eficiente, como é o caso de Tóquio.

A pesquisa apontou que a maioria das pessoas quer um carro com bom espaço interno, conforto e segurança para levar a família, além de um sistema elétrico, que garanta bons desempenho e autonomia. A montadora chegou a apresentar o modelo Série 7 com motor que queima hidrogênio, mas a solução pareceu inviável diante das dificuldades de armazenamento do combustível. Surgiu, então, o Mini E, um carro totalmente elétrico, lançado em 2008, representando uma nova fase na busca pela eletromobilidade eficiente.

SEM PORTA-MALAS Visto de fora, o compacto tem poucas diferenças em relação ao modelo equipado com motor a gasolina. Mas, por dentro, a diferença é logo percebida. O carrinho não tem o banco traseiro, já que a bateria de íon lítio ocupa todo o espaço. O motor elétrico instalado na parte traseira tem 150kw ou 204cv de potência e torque de 22,4kgfm, números que garantem bom desempenho. O fabricante limitou a velocidade em 152km/h e declara que o compacto acelera até 100km/h em 8,5 segundos. A autonomia é de 240 quilômetros e a bateria pode ser recarregada em uma tomada comum. Há ainda uma bateria só para alimentar o equipamento de som e o ar-condicionado. Com todos os agregados, o Mini E é cerca de 400 quilos mais pesado que o modelo convencional. Apesar do motor estar instalado na traseira, a frente foi ocupada por uma central de controle, ou seja, não sobrou espaço para bagagens.

Mas esta não é a preocupação da BMW no momento, pois o Mini E é apenas um instrumento para testar a eficiência do sistema elétrico. Atualmente, existem 600 unidades do carro sendo testadas por usuários nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. Elas pagam US$ 800 por mês para dirigir o carro e ainda fornecem informações ao fabricante sobre o comportamento do veículo. Dirigimos o compacto na Alemanha e alguns detalhes chamaram a atenção. O primeiro deles é a total falta de ruído de funcionamento do motor elétrico. Só se ouve o barulho da rodagem dos pneus.

E basta acelerar que o carrinho responde imediatamente, empurrando motorista e passageiro contra o encosto dos bancos. Porém, quando se tira o pé do acelerador o carro reduz bruscamente, como um freio motor, regenerando energia que recarrega a bateria, otimizando a autonomia em até 20% no uso urbano. A forte desaceleração é anunciada para o motorista que vem no carro de trás com o acendimento da luz de freio. E o desconforto do tranco pode ser amenizado com a dosagem correta no pedal do acelerador. A vantagem é que quase não se usa freio.

O Mini E tem no painel um indicador digital de uso de energia, que aponta o momento de recarregar a bateria. Durante o teste na Alemanha, saímos com 65% da carga e, depois de rodar 20 quilômetros, retornamos ao ponto de origem com 35%. Um consumo de energia elevado talvez em consequência das acelerações mais entusiasmadas. A BMW não divulga o custo de produção do Mini E nem se o modelo será fabricado em série.

O Mini elétrico tem apenas dois lugares e autonomia para rodar até 240 km



MEGACITY Os estudos da BMW no campo do carro elétrico não se restringem ao Mini E. A montadora prepara para 2011 o Active E, que tem a base do Série 1, mas com motor elétrico de 170cv e baterias de íon lítio mais leves, autonomia de 200 quilômetros e quatro lugares. Porém, a principal aposta da BMW nesse segmento é o Megacity Vehicle, um modelo totalmente novo que chegará ao mercado em 2013. Também será para quatro ocupantes, com grande porta-malas, motor elétrico ainda mais eficiente e baterias de íon lítio.

O segredo do Megacity será a redução do peso, com uso de materiais como fibra de carbono, mais cara que o aço, porém absorve melhor a energia em caso de impactos. O carro vai introduzir o conceito Life Drive, que usa a célula da carroceria em fibra de carbono, chassi de alumínio e as baterias como parte da estrutura, sob o assoalho. No caso de uma batida, a energia é transferida à estrutura de alumínio e o habitáculo de fibra fica intacto. Os engenheiros da BMW garantem que no caso de uma colisão mais forte as baterias suportam a deformação, mas se forem perfuradas há risco de incêndio. Com o motor instalado na traseira, a zona de absorção na frente fica mais maleável e agride menos, em caso de atropelamento.


O jornalista viajou a convite da BMW do Brasil