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Chineses bloqueiam setor

Pneus importados tiram lucratividade de revendas, que anseiam por regulamentação

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Paulo Bitarães: "Temos que aumentar a grade de prestação de serviços nas lojas autorizadas"

 

Para a indústria brasileira de pneus, 2010 foi um ano de recuperação. Depois de amargar queda de 10% na produção em 2009, o setor cresceu em ritmo acelerado no ano passado, quando, de acordo com a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), fechou com alta de 15% no volume fabricado.

 

Para 2011, a perspectiva de crescimento de 5% apontada pela associação é anunciada como sustentável. Um tom de moderação que não é aguardado para as vendas no mercado mineiro, impulsionadas principalmente por grandes empresas, sobretudo as de mineração. É o que afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Revenda e de Prestação de Serviços de Reforma de Pneus e Similares do Estado de Minas Gerais (Sindipneus), Paulo César Pereira Bitarães. Proprietário de reformadora e revenda de pneus novos em Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte), o empresário alerta para a concorrência desleal de pneus importados e aponta para a necessidade imediata de um novo projeto de regulamentação do setor.

As vendas de pneus em Minas Gerais acompanharam o ritmo da produção nacional em 2010?

Não, de jeito nenhum. Nosso mercado demorou a retomar o crescimento, principalmente devido ao setor de mineração. Prestadores de serviços, que respondem por boa parte do volume de pneumáticos novos, levaram alguns meses para reagir à recuperação do mercado. São as grandes empresas que elevam as vendas de pneus. Todo o Brasil funciona por meio de transporte terrestre, com caminhões e carretas. Infelizmente, não há uma pesquisa específica para saber qual foi o percentual exato de crescimento das vendas no estado no ano passado. Seria muito difícil levantar estes dados, pois o mercado de pneus é bastante segmentado.

Para 2011, o setor espera crescimento?
Esperamos que o mercado reaja como nunca. O pós-crise, a proximidade da Copa de 2014, várias obras de rodovias em andamento e mineradoras impulsionam o mercado no estado. Tudo isso consome muitos pneus. Por outro lado, a lucratividade dos revendedores vem caindo ao longo dos anos, porque tivemos que jogar os preços para baixo para suportar a concorrência importada. A rentabilidade que tínhamos anos atrás não é mais recuperável. Como consequência, os revendedores estão falindo. Costumo até dizer entre os colegas empresários que é melhor alugar um imóvel do que entrar nesse ramo.

Pneus de marcas chinesas estão inseridos neste contexto?

Com certeza, pois quanto maior o volume de produtos comercializados, maior é o número de importadores no mercado. As próprias empresas de pneus presentes no Brasil estão produzindo na China. Com isso, o Brasil sai perdendo e o empresário também.

Como os revendedores têm se preparado diante das marcas importadas?

Estamos buscando a união do setor para discutir uma forma de encarar este desafio. Aumentar a grade de prestação de serviços nas revendas autorizadas, por meio de troca de óleo e comercialização de rodas, são dois exemplos. É fundamental que todo o país discuta a entrada desTe tipo de pneu no mercado, uma vez que tanto a distribuição quanto a revenda têm se tornado inviáveis.

O subfaturamento de pneus importados denunciado pelo Estado de Minas tem afetado de forma direta as revendas mineiras?
Prejudica muito. O mercado de pneus é formado por revendas autorizadas e multimarcas. Com o pneu importado mais barato que o nacional, o importador vende para as multimarcas. As autorizadas não conseguem acompanhá-las em preço e estão morrendo. E, para piorar, hipermercados estão vendendo os pneumáticos sem qualquer critério, com vendedores que não sabem mostrar ao clientes sequer o índice de velocidade dos produtos. Como você vai saber se aquele pneu é o indicado para o seu carro?

O Sindipneus procura de alguma forma coibir o subfaturamento?

Não temos como bater de frente com essa prática. Procuramos orientar os revendedores multimarcas a pesquisar a origem dos pneus que eles vendem, mas é difícil. O preço dos pneus chineses tem feito a cabeça de muitos empresários.

E a reciclagem dos componentes, como fica com o aumento das vendas?
Não tenho conhecimento, em Minas Gerais, da existência de empresas especializadas na reciclagem total de pneus. Para onde vamos enviar os pneumáticos? Não sei. Gosto de defender que o pneu usado não é totalmente inservível. A reforma de pneus é uma necessidade que colabora não só com o bolso do consumidor, mas também com o meio-ambiente.

Diante da concorrência importada, qual é a saída para os revendedores autorizados?

A regulamentação do setor. Da estocagem do pneu nas lojas à reciclagem do componente, necessitamos de uma efetiva proteção do negócio e dos próprios empregos do setor. Hoje, qualquer um pode abrir uma empresa de pneus, uma borracharia e começar a vender pneumáticos chineses sem qualquer critério. Para tratar de tudo isso, o Sindipneus está elaborando um projeto de regulamentação. Entre as questões, pleiteamos redução de ICMS de 18% para 7%, redução de IPI de 15% para 0% nos pneus reformados de fabricação nacional e a efetiva fiscalização de veículos que circulam com pneus carecas nas estradas. Também propomos que a venda de pneus em hipermercados seja regulamentada.