O intenso aquecimento do mercado de veículos zero - com a promessa de recorde de vendas este ano - já se reflete na oferta. Desde as férias coletivas da maior parte das montadoras, no fim de dezembro e início de janeiro, que a demanda supera a oferta, resultando em longas filas de espera e, algumas vezes, em preço que supera o sugerido pelo fabricante. Quase todas as montadoras com fábricas no Brasil sofreram os efeitos da falta de carros no início do ano, o que seria normal. O problema é que ainda são muitos os modelos não encontrados para entrega imediata. A Honda, mais afetada, tem encomendadas 10 mil unidades do Civic em todo o país e a previsão de regularização do atendimento é somente para maio ou junho.
"Infelizmente, isso já vem acontecendo há um tempo. O novo Civic foi um sucesso e desde o lançamento, em maio, que não conseguimos atender 100% da demanda", afirma o gerente-geral comercial da Honda Automóveis, Alberto Pescumo. A primeira fase de expansão da fábrica, em Sumaré (SP), já foi concluída, possibilitando crescimento de 14% na linha de montagem. Para abril, está prevista conclusão da segunda fase. Mesmo assim, a oferta está longe de ser regularizada. O gerente confirma que concessionárias de todo o país estão com listas abarrotadas, em alguns casos até recusando-se a aceitar encomendas. O prazo de entrega para o Civic, por enquanto, é de dois meses. O monovolume Fit também está em falta, mas, nesse caso, Pescumo acredita em entrega normalizada até o fim do mês.
Férias
"Em janeiro, houve férias coletivas na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e, no carnaval, na de Camaçari (BA). Antigamente, a gente mantinha o estoque por algum tempo porque o mercado não estava tão aquecido. Esse ano, vendemos tudo", avalia o gerente de vendas da concessionária Pisa Ford, Antônio Longuinho, justificando a falta de praticamente todos os modelos produzidos no Brasil. A fábrica garante que os veículos já estão sendo faturados, até mesmo aos sábados e domingos, e até o fim do mês a situação deverá estar normalizada. Segundo a Ford, houve falta do Fiesta devido ao lançamento do modelo novo, que atraiu mais compradores, e de EcoSport, cujas vendas foram acima do esperado. "Percebi o seguinte. Até a reeleição do presidente Lula, as pessoas estavam apreensivas. Depois viram que não houve grandes mudanças e resolveram investir. E as montadoras não estavam preparadas para tanta demanda", pondera o gerente de vendas da concessionária Chevrolet LiderBH, Dálcio Amorim Carneiro.
Da marca, estão em falta Prisma, Zafira, algumas versões de Meriva e Corsa Sedan. O prazo médio de entrega é de 30 dias. O jipe Tracker (importado da Argentina) é revendido em poucas concessionárias da marca e, desde o lançamento, há filas de espera em algumas. O preço pedido também tem sido superior ao sugerido pelo fabricante.
A montadora informou que se trata de uma situação atípica de mercado, com enorme demanda nos primeiros meses do ano, o que não é comum. Disse ainda que, assim como as demais fábricas, está empregando todos os esforços para equilibrar a situação o mais rápido possível. Já a Toyota, que enfrentou falta grande dos automóveis Corolla e Fielder, começa a ter a produção normalizada. A espera chegou a ser de 30 a 45 dias, mas hoje os carros já são encontrados para pronta entrega. A picape Hilux, porém, é está em falta.
Normalização
Quase normal está a relação demanda e oferta do Citröen C3. Em Belo Horizonte, o período de espera é de cerca de 10 dias. Revendas Fiat também sofreram bastante com a falta de produtos no início do ano. Atualmente, a oferta vem sendo regularizada e faltam apenas Palio e Siena Fire, principalmente com o kit Celebration II, que inclui ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, entre outros itens. As vendas da Volkswagen também estão normalizando. Ainda é preciso esperar por Polo hatch, Fox 1.6 e Saveiro SuperSurf, mas por cerca de uma semana.
Da Renault, não faltam carros para pronta entrega. E da Peugeot, só há problemas na entrega de 307 2.0 hatch automático, com demora de até três meses. No entanto, segundo o gerente comercial da concessionária Bordeaux, Francisco Albuquerque Neto, trata-se de um caso específico: "No fim de 2006 teve uma promoção para este carro e vendemos muito. Isso está se refletindo agora".