Mal sabia Temístocles Brasileiro que o Peugeot 307 Feline 2.0 flex renderia o orçamento mais caro que já recebeu. Adquirido em setembro de 2009, o carro teve todas as trocas de óleo e revisão de 10 mil quilômetros feitas em concessionária. Quando o hodômetro marcava pouco mais de 14 mil quilômetros rodados, uma falha no funcionamento do motor fez o dentista de Fortaleza (CE) procurar novamente uma assistência técnica autorizada. “O carro engasgava, perdendo potência quando acelerava. Dei entrada com o Peugeot na concessionária e dois dias depois um consultor técnico me ligou para comunicar o diagnóstico”, relata Temístocles, que estranhou a forma como o funcionário descreveu a razão do problema ao telefone. “Depois de enrolar muito ao telefone, ele me disse que o 307 estava com carbonização do motor causada por combustível adulterado e o orçamento inicial para o reparo seria de R$ 3.256,82”. Espantado com o valor, Temístocles lembrou ao consultor que o carro ainda estava em garantia, mas recebeu como resposta o argumento de que o defeito não seria coberto pela fábrica. “Solicitei então um laudo do diagnóstico, esclarecendo que o problema havia sido causado pelo combustível, mas o gerente de pós-venda da concessionária negou o documento”, afirma.
O dentista alega que abastece no mesmo posto de combustível há cinco anos e tem como provar todos os abastecimentos. A central de atendimento especializado Peugeot respondeu a ele que a carbonização do motor é “proveniente de agente externo, ou seja, combustível de má qualidade ou adulterado e, por não caracterizar defeito de fabricação, não é coberto pela garantia”. Nota que vai contra o atendimento de uma segunda autorizada Peugeot procurada por Brasileiro, que fez a limpeza dos bicos injetores sem custo. “O motor voltou a funcionar normalmente”, esclarece Temístocles.
EMPURRADOS
A defesa dada pela central da Peugeot em relação à carbonização do motor tem embasamento, mas contraria outros orçamentos envolvendo o 307.
Proprietário de um modelo Griffe 2.0 automático ano 2006, Edivaldo Santos conta que, ao levar o carro, então com 14.637 quilômetros, para a revisão de dois anos, recebeu um orçamento de R$ 120 para o serviço de descarbonização do motor. “Como na época o Peugeot ainda estava na garantia, pedi para a concessionária verificar por que o motor morria depois que o 307 ficava parado, mas a falha não foi sanada”. Quase um ano depois, ao procurar outra concessionária, Santos se deparou com um novo cálculo para o problema. “Propuseram como solução abrir o motor do carro ao custo de R$ 3.054”, acrescenta. No mesmo site onde Santos reclama o ocorrido, Henrique Carvalho, de São Paulo, protesta que seu 307 Feline 2.0 automático ano 2008 morre em primeira marcha ou em ladeiras. “Procurei uma autorizada, mas empurraram um orçamento de R$ 673,68 para o serviço de descarbonização do motor”, alerta.
Embora seja 1.6 flex, o 307 Presence ano 2010 de Wesley, de Apucarana (PR), não se viu livre do serviço de descarbonização, que, desta vez, não foi contestado pelo proprietário. “Aceitei a descarbonização oferecida pela autorizada, visto que o vendedor disse que seria ótimo para o carro e sairia com o motor sem impurezas. Mas foi aí que o 307 começou a apresentar problemas no sistema antipoluição apontado pelo computador de bordo”, lamenta.
ESTÁGIO
A grande incidência de motores carbonizados no 307 é admitida pela própria Peugeot, que novamente atribui a origem do problema ao combustível de má qualidade. “Independentemente da versão, é notável uma sensibilidade maior à carbonização”, afirma o gerente de pós-venda da marca, Bruno Chiarella. O executivo ressalta que nos modelos flex o uso de etanol atenua o surgimento da carbonização, apesar de o problema ocorrer porque a mistura de ar e combustível não queima completamente, o que gera acúmulo da sujeira na sede de válvulas. “O ideal é que o motor funcione a uma temperatura entre 90 e 100 graus. Trajetos curtos, nos quais o motor não atinge essa temperatura, ou com tráfego intenso, de giro menos elevado, também podem acelerar o processo de carbonização, algo natural na vida de um motor”, explica.
A diferença nos valores oferecidos pelas concessionárias, alega Chiarella, está ligada ao estágio em que a carbonização se encontra. “No estágio inicial, a carbonização pode ser removida com um aditivo adicionado à gasolina. Se estiver pior, será preciso desmontar o motor, limpar ou trocar as peças afetadas”, diz o gerente.
Análise da notícia
Argumento nada convincente
Paulo Eduardo
A Peugeot culpa a má qualidade da gasolina vendida no país pela carbonização de seus motores 1.6 e 2.0. Porém, não há registro de carbonização do motor 1.4 Peugeot. Além disso, por que os motores de outras marcas não apresentam o mesmo problema? A alegação não convence e cabe à montadora esclarecer aos proprietários dos carros da marca o real motivo do problema.