Rio de Janeiro/RJ - Com jeitão abrutalhado não seria difícil para a Ram brigar por uma posição de destaque no segmento das picapes grandes. Mas a Ford F-250 foi descontinuada, o que deu a vitória ao utilitário do grupo Chrysler por WO. Antes Dodge Ram, a picape volta ao segmento após mais de um ano de ausência, retorno marcado também pelo rebatismo: agora Ram não é mais nome do modelo, mas da marca. Por aí já pode-se ver a importância da picapona para a nova companhia, porém no Brasil o segmento das full-size não é lá, por assim dizer, grande coisa e a projeção de vendas fica nas 1.800 a 2 mil unidades por ano. Importada do México, a Ram vem apenas na versão 2500 Laramie, a mais luxuosa, mas que ficou nos mesmos R$ 149.900 pedidos na estreia da geração anterior em 2005. O valor é cerca de 10 a 15% mais caro do que o pedido pelas picapes médias cabine dupla mais requintadas.
A Ram nunca foi delicada, tendo um jeitinho de caminhão burilado desde a segunda geração de 1993, aquela que não só fez sucesso como importada como também inspirou a Dodge Dakota fabricada por aqui entre 1998 e 2002. A nova geração surgida lá fora em 2008 continua seguindo a mesma cartilha de estilo: capô elevado, grade projetda para a frente como um escudo e faróis em posição mais baixa. Só que tudo atualizado com muitos ângulos retos e arestas. O corpanzil acompanha a agressividade: são 5,83 metros de comprimento, 3,78m de distância entre-eixos, 1,99m de altura e 2,02m de largura, isso sem contar os retrovisores. Não é para qualquer vaga não e fique bem claro que não me refiro apenas ao preço. Com 3.279kg, a Ram é tão pesadona e grande que exige carteira de habilitação do tipo C, a mesma de caminhões, porém com capacidade de carga total de apenas 1.075kg.
Itu
Como todo resto, até o tanque de combustível é superlativo, com seus 128 litros ou quase 34 galões pelas medidas ianques. Segundo a marca, o consumo médio é de 9 km/l, o que daria para mais de 1.110 km. E olha que se trata de um caminhãozinho até na força do motor: um Cummins seis cilindros em linha turbodiesel 6.2, usina que gera 350 cv lá fora, mas que foi reajustado para 310cv de potência a 3 mil giros por aqui, em razão do diesel mais sujo. O torque também lembra um caminhão, com 84,6kgfm já a 1.500 rpm, regidos pelo câmbio automático de seis marchas. A construção não renega suas origens, mantendo o esquema de cabine sobre chassi e suspensão por eixos rígidos pesadões e resistentes. Embora sejam mais vistas no asfalto do que qualquer outro habitat, a Ram é daquelas que conta com tração temporária nas quatro rodas, com reduzida e tudo, acionada por botão giratório no painel.
Por dentro, todo o jeitinho operário fica de fora. Os confortos são dignos dos antigos sedãs grandes americanos. Há espaço para seis pessoas, graças à alavanca de câmbio na coluna, que ainda permite trocas sequenciais por pequenos botões na manopla. Entre os itens, ar-condicionado de duas zonas, direção hidráulica, trio elétrico, bancos dianteiros elétricos, sistema de som com memória de 30 gigabytes e tela sensível ao toque de 6,5 polegadas e outros confortos americanos, além de rodas de liga aro 17 em pneus 265/70, freios a disco com ABS e EBD, controles eletrônicos de estabilidade e de tração, monitoramento da pressão dos pneus e três anos de garantia.
Fora da ordem
A Chrysler escolheo o Autódromo de Jacarepaguá para o test-drive. Escolha aparentemente insólita, porém explicada pela etapa de Fórmula Truck que está sendo realizada neste final de semana no Rio.Não se trata de uma aproximação entre iguais: a Ram é usada como carro da direção de prova da Fórmula Truck. Além do mais, a exigência de carteira de habilitação do tipo C iria dificultar a vida da maioria dos condutores presentes. Foram apenas duas voltas no circuito, mas já deu para sentir que a Ram jamais substituiria o Chevrolet Corvette usado como Pace Car. A praia dela não é essa, a pesadona navega pelas pistas. Não chega a ser uma barca insegura, só exige espaço e respeito às suas dimensões.
A direção por esferas recirculantes é do tipo que responde a tudo no seu tempo, macia na medida para as rodovias americanas. Os freios são bem assistidos e eficientes. A estabilidade não convida a abusos, porém as salvaguardas eletrônicas tolhem qualquer exagero. O conjunto de motor e câmbio não tem reações prontas em baixa, mas leva pouco tempo para o turbo entrar e colocar a Ram em movimento. Sente-se mais a força do que vê-se no velocímetro: trata-se de um veículo para puxar toneladas e não para arrancar fritando pneus. O posição de dirigir é alta e é possível ter uma boa visibilidade dos limites da picape, sem falar na visão sobre o capô sem fim.Para quem já quis ter um Peterbuilt ou um Mack para uso pessoal, a Ram é uma pedida que não dispensa os confortos de automóvel. O banco do motorista conta com ajuste elétrico com duas memórias de posição, enquanto o volante fica devendo ajuste de distância. Há porta-trecos por todos os lados. Há espaço para seis passageiros, porém os ocupantes centrais não são tão privilegiados pelos assentos, principalmente o da frente, penalizado pelo antidiluviano cintro abdominal, anacrônico em comparação aos seis airbags disponíveis - frontais, laterais dianteiros e do tipo cortina. No demais, trata-se de uma picapona para iniciados, como a própria marca espera.
* Jornalista viajou a convite da Chrysler