UAI

Brecha na legislação permite faróis que ofuscam motoristas

Especialista em iluminação afirma que brecha na Resolução 227 do Contran, que permite homologação de veículos com faróis tipo americano, pode ofuscar demais motoristas

Publicidade
Foto:

Veja as diferenças entre os faróis europeus e americanos (clique para ampliar)



A convivência de diferentes modelos de faróis nas ruas e rodovias brasileiras pode comprometer a segurança no trânsito. Quem adverte é Lázaro Moraes, gerente de desenvolvimento da Nino Faróis e membro do Comitê de Iluminação Veicular da ABNT. O modelo adotado pela Resolução 227 do Contran, que trata sobre os sistemas de iluminação e sinalização dos veículos, é o europeu. A sua principal característica é a projeção bem definida do facho luminoso. A linha de corte entre as áreas que recebem luz e as de sombra está bem definida, evitando que os demais motoristas tenham a visão ofuscada.

Até aí tudo bem, mas a mesma Resolução 227, em seu artigo 5º, abre uma brecha que delega ao próprio Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) a homologação de veículos que atendem a norma norte-americana. Nesse tipo de farol não existe a divisão entre luz e sombra, que é feita gradativamente. O resultado disso, conta Lázaro, é a sensação de maior conforto ocular do motorista, mas também o ofuscamento dos motoristas que transitam no sentido oposto, enquanto no modelo europeu (se regulado) isso não acontece.

Na avaliação de Lázaro, a escolha brasileira pelo modelo europeu é acertada porque as vias do país têm características semelhantes às daquele continente, ou seja, ruas e estradas mais estreitas. Já nos Estados Unidos as vias são mais largas.

“Trabalho com iluminação há 24 anos e levei uns 15 anos para entender o farol americano. Posso afirmar que ambos são bons”, afirma Lázaro. O especialista explica que o problema está em misturar nas vias veículos equipados com os dois tipos de faróis. Se existissem apenas faróis americanos, não haveria incômodo. Da mesma forma, apenas faróis europeus não ofuscariam.

De acordo com Lázaro, a fim de encontrar uma zona de conforto, o olho humano se adapta a diferentes situações de luz. Então, mesmo se todos os faróis fossem americanos, com maior incidência de luz, não incomodariam ninguém. O perigo mora em um ambiente onde os motoristas, acostumados a uma menor intensidade luminosa, estão sujeitos a serem ofuscados por um farol fora do padrão. “É como quando passamos um perfume. Após alguns minutos nos acostumamos com seu cheiro e não o percebemos, mas as outras pessoas sim. Diferente seria se todas as pessoas usassem o mesmo perfume, quando essa percepção seria muito sutil”, analisa o especialista.

MUDO

Lázaro conta que para chegar às ruas dos Estados Unidos um modelo europeu precisa adaptar seu projeto de farol para se adequar às normas americanas. Na Europa, os carros americanos também precisam seguir a norma local. A reportagem entrou em contato com o Denatran para entender a posição do órgão máximo de trânsito no Brasil, que não se pronunciou sobre o assunto.