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Brazucas e hermanos

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Houve um tempo, nem tão distante, em que era proibido importar carros no Brasil. Assim, os consumidores tupiniquins viviam à mercê do humor das montadoras aqui instaladas, não mais que quatro, e tinham de conviver com modelos ultrapassados tecnologicamente e de design pouco atraente, salvo raras exceções. Bastava qualquer viagem ao exterior para que o brasileiro voltasse deslumbrado e, por que não dizer, com uma ponta de inveja de quem vivia além da fronteira.

GRINGOS A abertura do mercado nacional e a crescente globalização trataram de corrigir a distorção e o consumidor verde-amarelo passou a ter muito mais opções na hora de realizar o sonho de comprar um automóvel, fosse ele um popular ou um modelo de luxo. Desembarcaram por aqui automóveis alemães potentes e com muita tecnologia embarcada, além de russos em fim de carreira, japoneses confiáveis e coreanos cujas importações intermitentes trataram de provar ser um péssimo negócio.

VARIEDADE Praticamente qualquer carro fabricado no mundo passou a estar ao alcance dos brasileiros, bastando para isso ter saldo bancário compatível. E nos acostumamos com uma variedade enorme de modelos nessas últimas duas décadas.

FAREJANDO Com isso, os carros pararam de chamar a atenção da maioria nas viagens internacionais. Mas não para os olhos dos fissurados em automóveis. Sempre há modelos raros ou recém-lançados a serem farejados, bem como antigos que não chegaram a nossa pátria ou cuja presença por aqui foi tão pequena que praticamente não existem exemplares para contar a história.


ANTIGOS Para quem gosta desse último caso, a Argentina é um passeio perfeito. Se atualmente há modelos fabricados aqui que circulam por lá, e vice-versa, é fácil notar o quanto os dois países foram diferentes quando o assunto é indústria automotiva. É muito comum ver pelas ruas e estradas do país platino Fords Taunus e Falcon das décadas de 1960 e 1970, quando nossos hermanos tinham também à disposição modelos Peugeot, como os 504, ou Fiat 600 dos anos 1950. Muitos estão caindo em pedaços, apesar de cumprir seu papel de transportar pessoas e produtos, mas há também aqueles impecavelmente conservados. Também chamam a atenção os personalizados, que ganham pintura nova sobre lataria recuperada, além de componentes modernos, que lhes garantem desempenho excepcional.

FIGURINHAS Claro que também há velhos conhecidos dos brasucas, figurinhas carimbadas como Fiat Prêmio, lá chamado de Duna. E até 147, primeiro modelo que os italianos montaram na fábrica de Betim, fazendo bonito nas estradas, apesar do peso da idade. E muitos, talvez a maioria, são movidos a diesel logo despertam o interesse pelo ruído característico do motor. Coisa que até em caminhonetes era raro no Brasil. É possível também ver pelas ruas de Buenos Aires algumas raridades, como Volkswagen 1500, aqui conhecido como Dodge Polara, e o Fiat 124.



NOSTÁLGICO
Como todo país que dá valor à sua memória, a Argentina tem museus incríveis e prédios bem conservados. Há uma certa nostalgia no ar, como se houvesse sempre um antigo tango tocando. E não são só os carros que contribuem para isso, mas também o transporte público. O metrô, cuja maior parte foi construída na primeira metade do século 20, tem estações belíssimas, mesmo desgastadas pelo tempo, como mostram alguns painéis de azulejos. Já a pintura e detalhes dos ônibus, como faixas brancas nos pneus, remetem a um tempo em que os portenhos certamente tinham menos pressa de chegar ao destino. Um deleite.