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Especialista na área  automobilística e de inovações tecnológicas, Szwarc chama a atenção para  a falta de investimentos em novas refinarias e faz uma análise dos prós  e contras dos combustíveis usados no Brasil. Ele considera que o etanol  tornou-se pouco atrativo por falta de uma política tributária e  logística de distribuição eficientes. “Minas Gerais é um dos grandes  produtores de etanol, no entanto cobra um dos maiores ICMS no país. É  preciso fazer uma campanha para estimular o consumo do etanol,  melhorando a competitividade ”, afirma.
CONSUMO Em um país  com uma imensa frota de carros flex, o etanol anda em baixa, pois o seu  preço na bomba não tem sido um estímulo para o seu uso. Szwarc afirma  que o sistema flex evoluiu muito nos últimos anos, mas diz que é preciso  otimizar a calibração dos motores para melhorar consumo e desempenho.  Ele acredita que com a injeção direta os propulsores flex, quando  alimentados com etanol, devem chegar a um consumo de cerca de 80% do  resultado apresentado com gasolina. “E com o etanol de segunda geração,  produzido do bagaço e da palha de cana, pode-se obter resultados ainda  melhores”, afirma Szwarc.
Em relação ao gás natural veicular  (GNV), o engenheiro mecânico o considera um excelente combustível, mas  mal utilizado, já que geralmente os kits são instalados de forma errada  ou literalmente depenados. De acordo com Szwarc, a prática muito comum  no mercado de instalação de kits de GNV é a retirada de sensores, para  torná-lo mais barato. “Para se ter uma ideia, em São Paulo um kit de GNV  completo custa em torno de R$ 4.500, mas é possível encontrar por até  R$ 2 mil”, revela. Ele acrescenta que sem os sensores o motor emite  poluentes e o GNV acaba sendo pior do que a gasolina. “Na inspeção  veicular na capital paulista cerca de 40% dos carros com kit de GNV são  reprovados”, informa o engenheiro. Outro fator que prejudica o uso do  GNV, na opinião de Szwarc, é o alto custo da distribuição, por isso ele  acredita que o combustível deveria ser direcionado a ônibus e táxis.
DIESEL O  engenheiro faz também algumas observações sobre o uso do diesel no  Brasil e revela que no passado era contra a liberação desse combustível  para automóveis de passeio, por razões ambientais, já que apresentava  elevada emissão de partículas e de óxidos de hidrogênio, além da grande  quantidade de enxofre. “Mas o diesel melhorou muito e os motores atuais  contam com tecnologia avançada, com emissões reduzidas e bom desempenho.  Temos o diesel de cana, que não tem enxofre e vem sendo usado em frotas  de ônibus do Rio de Janeiro e São Paulo, porém o custo da produção  ainda é elevado”, afirma.
Mas com tantas alternativas de  combustíveis, qual é a melhor opção para diminuir a dependência dos  derivados do petróleo? Para Szwarc, o carro 100% elétrico precisa  evoluir, pois ainda tem autonomia curta, as baterias são caras e depois  que perdem a capacidade regenerativa se transformam em um problema. Ele  reconhece que o carro elétrico é ideal para o uso urbano, mas chama a  atenção para a questão da segurança das baterias, que têm apresentado  constantes problemas de aquecimento. “Fala-se muito do carro elétrico,  mas temos mais de 30 milhões de automóveis flex, que é tecnologia  eficiente e mais barata”, afirma o engenheiro. Ao fazer a defesa do  carro flex, ele argumenta que desde 2003, quando foi lançado o primeiro  modelo com o sistema, foi evitada a emissão de 200 milhões de toneladas  de gás carbônico no ar do Brasil. “Um veículo flex com etanol tem  emissão líquida de 10% em relação à gasolina”, revela.
A célula a  combustível também é uma alternativa considerada por Szwarc, mas em um  futuro mais distante. “Não consigo imaginar nos dias de hoje uma rede de  abastecimento de hidrogênio, que alimenta a célula a combustível. O  etanol ou o GNV poderiam ser fontes para produzir hidrogênio, mas o  sistema ainda é muito caro e vai levar alguns anos para atingir nível de  desenvolvimento satisfatório”, afirma.
INSPEÇÃO Alfred  Szwarc destaca também a importância da inspeção veicular ambiental e de  segurança, que caminha a passos lentos no Brasil. Para ele, trata-se de  um problema cultural, pois primeiramente os proprietários de carros  devem ter a consciência da importância de fazer a inspeção e a  manutenção preventiva, que é mais barata do que a corretiva. “Além  disso, a inspeção traz um ônus para a sociedade, pois o cidadão gasta  tempo e dinheiro para executá-la. E como a visão do político brasileiro é  obtusa, pois ele enxerga o dono do carro como eleitor, as coisas não  evoluem”, analisa. Diante da inoperância do governo em relação à  inspeção veicular de segurança, Szwarc diz ser incompreensível por que  isso é possível em outros países e aqui não. “Será que temos empresas  capacitadas para fazer a inspeção? Será que eles só querem ganhar  dinheiro? O governo pode até permitir que a iniciativa privada execute a  inspeção veicular ambiental e de segurança, mas desde que sejam feitas  exigências severas. Essas empresas devem estar tecnicamente habilitadas  para isso”, conclui.