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Bagunçando o chop suey

Grupo Effa perde o controle da Lifan em meio a crise de imagem da marca, que passa por problemas com modelos da Hafei. E a matriz chinesa prepara invasão própria

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Lifan 320 também enfrenta uma confusão jurídica com a BMW, que não achou graça na semelhança com o Mini Cooper

Casamentos desfeitos são comuns, porém não convém expor seus bastidores ao público. Mas, quando a história envolve empresas, os acontecimentos ganham outra proporção. Caso da separação do grupo Effa-Lifan, formado pelo empresário uruguaio Eduardo Effa, que representa também a chinesa Hafei, e a Lifan, agora desmembrada. O desquite já era público. Porém, as motivações não ficaram claras. Combalido, o grupo começou a se desmantelar internamente. Vários executivos abandonaram a canoa há tempos, enquanto a engenharia debandou em massa. Uma das razões está na sucessão de problemas apresentados pelos automóveis. Há casos de remarcação de chassis, enquanto outros comprometem a segurança.

Ainda não divulgado, o problema de marcação atinge centenas de pequenos comerciais Start, que compõem a linha Effa junto com a cópia da Chevrolet Colorado, a picape Plutus e o polêmico compacto M100. Segundo comunicado de 10 de novembro de 2011 emitido pela Hafei Motor, que produz na China os modelos, a rasura foi causada por um erro administrativo e eles não teriam atentado para as consequências da correção. Estão envolvidos 570 veículos Start picape e van com numeração de chassi entre LKHGN1AG1CAR00096 e LKHPF2CG6CAY00270. Para não descobrir antes que seja tarde, os proprietários e interessados devem verificar a marcação dos chassis, cuja alteração deixa sinais claros tanto na tipografia quanto no arranjo do código.

As respostas da Effa Motors são tão inquietantes quanto o problema em si. “Tomamos conhecimento do fato quando os veículos já estavam nacionalizados e, em sua maioria, vendidos aos concessionários”, afirma Bruno Ferreira, diretor-financeiro da Effa Motors. Perguntamos se a remarcação alterou o ano/modelo de algum veículo, como apuramos. Porém, segundo a Effa Motors, não é possível saber isso. Segundo eles, somente três casos tiveram problemas de licenciamento e o dos consumidores já teria sido resolvido. A falta de sintonia entre representante e matriz pode esconder outras aberrações e já azedou a antiga relação com a Lifan.
 
MAUS ARES Denunciado pelo caderno Vrum em julho de 2011, o problema de vazamento de vapores de combustível dentro do Lifan 320 foi assumido em um primeiro momento, junto com a afirmação que poderia ser até caso de recall. O mesmo aconteceu com a indicação incorreta do velocímetro, capaz de apontar a mais, a menos ou, até mesmo, se isentar de qualquer indicação. Porém, em outubro, perguntamos a então Effa-Lifan a quantas andava a solução. Muitos consumidores se indignaram com o despreparo da rede. O leitor Bruno Azalim da Costa vendeu seu 320 ao próprio concessionário por R$ 26 mil, R$ 4.500 a menos que pagou, só para se livrar do problema. Em nota, a marca afirmou que os problemas com o velocímetro se deram “por causa de um lote de sensores de velocidade com calibração inadequada”, enquanto “os vapores de combustível seriam casos de baixa frequência ou de mau uso”, culpa do frentista ou do usuário.

O senão é que não se trata nem de uma coisa ou outra. Segundo informações cruzadas por fontes, as falhas na vedação do tanque tem várias origens, sendo um erro do projeto. De posse das circulares de serviço, confirmamos que o problema tem três causas distintas, envolvendo falhas na tampa de combustível, na vedação do tanque e na válvula do cânister. “Reforçamos os reparos dizendo aos concessionários para verificarem todos os modelos e fizemos um boletim bem explicado como uma receita de bolo para consertar os três problemas e substituir peças”, garante Carlos Tavares, diretor de pós-venda da nova Lifan. “Infelizmente, não saíram com a solução completa”, afirma.

O problema do velocímetro, por sua vez, era velho conhecido da Effa-Lifan, porém não teria sido repassado à nova empresa, que ainda nem firmou CNPJ nacional. Embora seja aparentemente desconhecido da Lifan, a causa do erro do velocímetro foi explicada por duas fontes. “Foi uma confusão de part numbers, ou seja, um troca das peças numeradas feitas pelo próprio fornecedor chinês, que mandou para o 320 os sensores do 620 e vice-versa”, garante fonte ligada ao fabricante.