A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tem entre suas funções manter a continuidade na prestação de um serviço público de âmbito nacional e zelar pelo interesse dos usuários.
Ao enfatizar essa última função, fomentando a concorrência, ela jamais poderia imaginar que estava aplicando um remédio amargo no segmento do transporte aéreo de passageiros, afetando em especial as transportadoras que operam aeronaves maiores.
Não há dúvida de que em sua estrutura haja um setor de acompanhamento da política de preços praticada pelas empresas aéreas, mas evita a interferência, pois em tempos passados o Departamento de Aviação Civil (DAC) praticou esse ato e o assunto ecoou até no Congresso Nacional.
Não interferindo e fomentando a concorrência, promoveu uma competição na indústria, originando invencionices diversas e magros resultados.
Para oferecer ao usuário um preço menor, as mais diversas invenções são praticadas. Os assentos da primeira fileira e das fileiras contíguas às saídas de emergência ganharam status e passaram a ser cobrados a um preço diferenciado. Assentos com espaçamento maior são oferecidos com acréscimo no preço. O lanche de bordo sumiu em algumas transportadoras. A quantidade de água nos reservatórios dos lavatórios foi diminuída.
O objetivo de atrair mais passageiros foi atingido, mas o resultado das empresas se deteriora assustadoramente. Os aviões têm voado com uma boa ocupação, ainda que com um número da assentos acima de 150, mas isso não se traduz em resultado financeiro.
Contribuem para a deterioração dos resultados a desvalorização do real, o preço do combustível de aviação, as tarifas aeroportuárias e, desde 2011, a diminuição do ritmo de crescimento da economia nacional.
As maiores companhias, TAM e Gol, que fecharam no vermelho em 2011, apresentaram resultados temerosos no 2º trimestre. A Gol fechou o trimestre com um rombo de R$ 715 milhões, um pouco acima de todo o rombo de 2011. A TAM ficou no vermelho em R$ 928 milhões, bem mais do que havia perdido em 2011.
O passageiro ideal para uma empresa aérea é o que voa sob o guarda-chuva de uma empresa, o executivo. Para ele, a política equivocada de preços não é praticada e a sua ausência a bordo é sentida.
A TAM e a Gol priorizaram a utilização dos aeroportos de Congonhas/(SP), Brasília/(DF) e Santos Dumont/(RJ), exatamente por serem os de maior movimentação de executivos. E foram esses aeroportos que apresentaram uma movimentação decrescente no 1º semestre. O movimento de passageiros no aeroporto de Congonhas/(SP) decresceu 0,93% no primeiro semestre de 2012, evidenciando uma diminuição de executivos no segmento de maior rentabilidade do transporte aéreo, a ponte aérea Rio–São Paulo.
Quando a Anac começou a aplicar o seu remédio, a partir de 2006, não poderia imaginar que a economia iria sofrer abalos em 2008 e que não eram uma simples marolinha, como adjetivado pelo ex-presidente Lula.
O que se observa é que a demanda do transporte aéreo continua firme, em junho cresceu 11%, mas os resultados continuam decepcionantes e há o risco de a política de promoção da concorrência fomentada pela Anac ir contra a sua função de manter a continuidade na prestação de um serviço público de transporte aéreo.
É interessante observar que o remédio amargo parece ter afetado menos as empresas menores, que voam com aeronaves de até 120 assentos para passageiros e têm os seus hubs (pontos de conexão) fora dos aeroportos privilegiados pela TAM e Gol.
Se os três aeroportos disputados pelas duas maiores transportadoras tiveram as suas movimentações diminuídas ou com um crescimento pequeno, aqueles selecionados pela transportadoras menores apresentam crescimento invejável. Os aeroportos de Viracopos/Campinas, de Confins/(BH) e do Galeão/(RJ) apresentaram crescimento de demanda de passageiros em cerca de 20%.
Foram beneficiadas as empresas Azul e Trip, que voando com aeronaves menores para as capitais e um número significativo de cidades do interior se valeram do crescimento que ainda persiste fora da área litorânea de nosso país.
Não cabe à Anac nenhuma censura sobre a prerrogativa de priorizar a concorrência, mas o remédio amargo tem azedado o fígado dos acionistas da TAM e da Gol.
BIRUTINHAS
JEITINHO O governo parece estar querendo arrumar um jeitinho para evitar que a oposição use o termo privatização nos leilões que devem atingir os aeroportos do Galeão/(RJ) e Confins/(BH). Há uma corrente defendendo a criação de uma estatal., a Infraero Participações, que ficaria com o controle dos consórcios. Os grandes operadores mundiais de aeroportos olham com desagrado essa invencionice.
RUMO Qual aliança global irá ter a Latam, que se constituiu com a fusão da LAN, empresa chilena, e a TAM? A TAM é membro da Star Alliance e a LAN é integrante da One World. Ao que parece há uma incompatibilidade de o novo grupo fazer parte de uma aliança global que inclua a Avianca-Taca, que anunciou ingressar no Star Alliance.
LABACE Nesta semana foi realizada a 9ª edição da Conferência e Amostra da Aviação Executiva da América Latina. A análise realizada pela Embraer acusa uma demanda mundial de 11.275 unidades de aviões executivos nos próximos nove anos. Isso num cenário otimista. Num cenário menos otimista esse número diminuirá para 8.660 unidades. Coisa de US$ 260 bilhões ou de US$ 205 bilhões.
COMPARTILHAR Os empresários do segmento de varejo estão utilizando aeronaves compartilhadas, buscando economia e redução do tempo gasto em viagens. Essa é a percepção de um executivo do Prime Fraction Club, primeiro clube brasileiro de compartilhamento de bens de luxo. Segundo o executivo, tem aumentado o número de lojistas de todo o país, de diferentes segmentos, que se valem do compartilhamento.
ESTÁGIO A Gol abriu o processo de seleção para a formação da segunda turma de estagiários de 2012. O programa selecionará 25 alunos para trabalhar na sede da empresa em São Paulo e no Centro de Manutenção de Aeronaves, em Belo Horizonte. As mais variadas áreas de formação serão contempladas com as vagas a serem preenchidas.