Passado o alvoroço do impacto da medida que, ano passado, elevou em 30 pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os veículos importados, cenários distintos ficaram evidentes no mercado de veículos zero: de um lado, marcas premium como Mercedes, BMW, Volvo e Audi, que, de fato, tiveram os preços elevados nas tabelas, à exceção das unidades 11/12 que restam nos estoques das concessionárias; de outro, chinesas como Chery e JAC – em franca ascensão e, justamente por isso, entre os principais alvos do governo –, que capricharam na importação até o fim do ano, rechearam os estoques e, por isso, ainda não elevaram os preços dos veículos em um centavo sequer. No meio, as coreanas Hyundai e Kia, na ponta da dor de cabeça das montadoras nacionais, que adotaram estratégias diferentes: enquanto os revendedores Hyundai mantêm preços de dezembro, em alguns casos até com descontos promocionais, as concessionárias Kia receberam nova tabela ainda no ano passado e, com o tempo, o próprio mercado foi se ajustando aos novos preços, com flexibilização nas negociações.
A posição mais confortável é da chinesa JAC. A marca mantém os preços de lançamento (J3 e Turin ainda estão com R$ 1 mil de desconto) e a postura de agressividade nas negociações. Revendas estimam que o estoque atual esteja em torno de 20 mil veículos, o que significa em torno de seis meses de vendas, ou seja, até outubro. A maioria ainda é 11/12, mas já há unidades 12/12 como do J5. Já as concessionárias Chery estimam que os estoques durem por mais um mês. A partir de meados de maio ainda não se sabe qual será a estratégia da marca. Até lá, no entanto, também estão mantidos os preços de 2011.
FLEXIBILIZAÇÃO Entre os alvos, possivelmente a mais prejudicada com a medida (obviamente depois do consumidor, que é, de fato, quem saiu perdendo), a Kia vivia um momento especial e as revendas tiveram que se adequar a uma nova realidade. De cara, os descontos sumiram e as tabelas foram reajustadas no ano passado. Findos os estoques, o lema passou a ser flexibilização nos negócios e foco no custo x benefício, buscando justificar, por exemplo, que o aumento de R$ 5 mil no até então recém-lançado Picanto, hoje a partir de R$ 39.900, ainda significa pouco se comparado aos concorrentes quando mais equipados. Ao contrário da Kia, o importador Hyundai, outra marca cuja ascensão preocupa as mais tradicionais, não só mantém os preços dos modelos 11/12 como, em alguns casos, houve redução. Entre os exemplos, o Sonata, por R$ 97.250; e o i30, a partir de R$ 54.250.
OPORTUNIDADE Sem muito direito à ginga – já que o negócio principal não reside nos importados –, as marcas com fábrica no Brasil também foram prejudicadas em relação aos importados. A maioria já reajustou as tabelas, mas ainda é possível garimpar, em concessionárias de Belo Horizonte, uma ou outra unidade, ainda que não necessariamente com preços de dezembro, mas custando bem aquém das novas tabelas. Até o fechamento desta edição, foi possível encontrar um Chevrolet Omega 11/11 por R$ 108 mil; um Peugeot 3008 Allure 11/12, R$ 89.900; algumas unidades do Citroën C4 Picasso, R$ 84.450. Já entre as marcas premium e somente de importados, da Mercedes ainda é possível encontrar unidades sem aumento, a exemplo de um GLK 300 11/12 por R$ 199.900.
NICHO Representante smart, a Mercedes informa que não houve aumento em nenhuma das três versões comercializadas no Brasil, a partir de R$ 49.900. Já os Mini Cooper começaram a sofrer os reajustes, restando ao consumidor procurar pelas unidades restantes em estoque. No caso do modelo S, em Belo Horizonte, foram revistos os pacotes de acessórios e hoje o modelo é encontrado de R$ 122 mil a R$ 138 mil, conforme a versão, e ainda há unidades com preço antigo em estoque.
Entenda o caso
Em 15 de setembro do ano passado, um decreto do governo federal determinou o aumento de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos modelos importados. Como a medida valeria no dia seguinte, várias marcas entraram na Justiça, houve muita negociação, e ficou estabelecido que a medida passaria a valer em 30 dias, ou seja, em 16 de dezembro, data que foi considerada limite para a entrada de modelos no Brasil sem a nova alíquota;
O decreto, que deixava muitas dúvidas, apontava que as empresas com fábrica no Brasil estavam obrigadas a comprovar que atendiam os quesitos de nacionalização mínima de 65% dos modelos aqui produzidos para estarem livres do aumento, entre outras exigências;
Em novembro foi publicado outro decreto, com uma lista provisória das marcas beneficiadas que ficariam livres do aumento, e outra lista definitiva foi divulgada em 31 de janeiro. De maneira geral, ficaram isentos os modelos produzidos no Brasil, Mercosul e México, nas situações em que a marca tem fábrica no Brasil. A exceção foi a chinesa Lifan, que não tem fábrica no Brasil, mas traz os modelos do Uruguai e foi beneficiada por acordo com esse país;
No último dia 3, o governo anunciou outras medidas dentro do novo regime automotivo. Algumas regras foram flexibilizadas, como a redução de exigência do conteúdo nacional para 60%. Mas ficou claro que até o fim de 2012 não haverá alteração no IPI e, para conseguir prováveis reduções, montadoras terão que cumprir metas de produção e inovoção, que poderão ser levadas em conta a partir de 2013.