Substituir uma estrela nunca é fácil, ainda mais quando se trata do Aston Martin DB5, que fez sucesso nos filmes de James Bond da era Sean Connery. Só que a estrela em questão ficou apenas dois anos em linha, entre 1963 e 1965, quando foi apresentado o DB6. Para não mexer na face conhecida, o novo modelo chegou com praticamente a mesma dianteira do antecessor. O que mudou mesmo foi a traseira, que se adequou aos anos 1960, abandonando os vestígios das barbatanas que vinham do DB4, de 1958, da mesma forma que as mulheres deixaram as saias longas de lado. A tradição ditaria a cor Verde de Corrida Britânico, British Racing Green, só que esse belo DB6 1967 saiu no tom Aston Green, tradicional da marca.
A reforma foi menos um golpe de estética e mais uma solução aerodinâmica. Conhecido como cauda de pato, o estilo é chamado de Kammback, em referência ao especialista em aerodinâmica Wunibald Kamm. O alemão provou nos anos 1930 que a forma em gota não era muito prática, pois alongava demais a traseira. O ideal seria o corte abrupto com spoiler, que, ao ser pressionado pelo fluxo de ar, gruda a traseira ao solo em altas velocidades.
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E era necessário. Com motor seis cilindros em linha de 4.0 litros e três carburadores SU, o DB6 tem 286cv de potência a 5.500rpm, que podiam subir para 330cv na versão preparada Vantage. O torque de 37,7kgfm a 4.500rpm é administrado por um câmbio manual de cinco marchas. É o suficiente para levá-lo aos 100km/h em pouco mais de seis segundos e ir aos 240km/h de máxima, contra 7,1s e 233km/h do antecessor. Números capazes de rivalizar com esportivos modernos, como o Honda Civic Si ou o VW Jetta TSI. A confiabilidade do motor era testada por até 160 quilômetros. Nesse exemplar, o funcionamento continua suave, com ronco profundo e embaralhado em baixas rotações, mas que ganha notas mais graves em alta. A suspensão dianteira é independente, enquanto a traseira recorre ao tradicional eixo rígido. Os freios são a disco nas quatro rodas, com ventilação facilitada pelas rodas aro 15 polegadas de cubo rápido. A porca central é retirada com um martelo de cabeça macia. Na hora de apertá-las, o próprio rodar dá um aperto extra.
CONSTRUÇÃO A percepção de que o carro aumentou se reflete na trena. São 4,62 metros, cinco centímetros a mais. Além da traseira, a medida entre-eixos foi bem ampliada de 2,48m para 2,58m, enquanto a altura aumentou 1cm, indo para 1,39m. Não garantiu acres de espaço, mas já ampliou a área para as pernas e cabeças de quem vai atrás. Acompanhando a altura, o para-brisa ficou mais inclinado, completando as diferenças em relação ao projeto original do DB4/DB5, assinado pela Carrozeria Touring de Milão.
Também mudou a forma de construção Superleggera, ou superleve, usada pela casa italiana, na qual a estrutura é formada por tubos de aço envolvidos pelos painéis da carroceria, normalmente de alumínio. O DB6 se vale de cabine sobre chassi, o que ajudou a elevar o peso de 1.465kg do DB5 para 1.550kg. O que não mudou foi a construção artesanal. Para se ter uma ideia, só a pintura leva 22 demãos.
ESMERO Como é tradição na Aston Martin, o interior ostenta couro costurado à mão por toda parte. O painel tem tantos mostradores e interruptores quanto um avião. O quadro de instrumentos tem moldura no mesmo formato da inconfundível grade. Comandos deslizantes fazem a regulagem do ar-condicionado, já embutido, e da ventilação, que ficam logo acima do ajustador da mistura ar/combustível. A direção hidráulica também estava disponível como opcional.
Se não sobra espaço como na frente, ao menos os passageiros de trás contam com encostos de cabeça. O clássico esportivo britânico tem soluções curiosas, como o freio de estacionamento colocado à esquerda do banco do motorista, onde está até hoje nos Aston, além do pequeno extintor de alumínio. No final, após andar no Aston, a impressão é de que se James Bond tivesse tido acesso a esse modelo provavelmente pediria ao mestre em tecnologia Q para deixar de lado as metralhadoras embutidas e assentos ejetores e se concentrar na tarefa de transformar o seu DB5 em um DB6.