Falta de manutenção do sistema de ar-condicionado, temperatura muito baixa e alta frequência de uso, principalmente em ambientes de grande poluição. Todos são fatores que podem agravar doenças respiratórias e provocar outros tipos de danos à saúde de quem anda de carro com o ar sempre ligado. Mas tudo pode ser amenizado com cuidados que vão desde o controle da temperatura e do direcionamento do ar à troca do filtro e higienização.
A origem está na manutenção adequada do sistema, que deve ser feita de acordo com o manual do fabricante. Mas, de maneira geral, restringe-se à troca do filtro antipólen e higienização, que podem ser feitas a cada seis meses ou um ano, conforme o uso. “Quando não é feita a manutenção adequada, pode haver uma contaminação muito grande com fungos”, alerta o diretor da Sociedade Mineira de Pneumologia, Luiz Fernando Ferreira Pereira. Segundo ele, um dos problemas sérios é a chamada pneumonia de hipersensibilidade: “É uma reação, como se fosse alérgica, que provoca lesões no pulmão e, mais à frente, uma fibrose. É sério, mas mais frequente por contato com mofo dentro de casa. É uma reação exagerada do pulmão ao fungo. É rara, mas ocorre”.
De acordo com o médico, a má qualidade do ar-condicionado, de maneira geral, pode agravar doenças respiratórias alérgicas já existentes, como a asma, resultando no popular “chiado”, tosse ou falta de ar; além da rinite (inflamação da mucosa do nariz), provocando espirros, coceira e o entupimento do nariz.
Gelado
Outro problema, de acordo com o pneumologista, é o ar muito frio e seco. “Às vezes lá fora está fazendo 30º graus e o motorista põe o ar a 15º graus. Essa mudança de temperatura provoca maior sensibilidade nas vias aéreas. Com o ar muito frio, os cílios existentes dentro das fossas nasais não ajudam a drenar a secreção, podendo levar a uma sinusite. Da mesma forma, agrava problemas de pulmão. Mas isso varia muito de pessoa para pessoa”, enfatiza. Segundo ele, é difícil precisar qual seria a temperatura ideal para se manter o ar, até porque depende da temperatura externa. Mas o ideal é deixar esfriar por alguns minutos e depois reduzir a intensidade. “Quando o ar é digital, é mais fácil controlar a temperatura; se não é, o ideal é não manter uma gradação baixa demais. Mas o que vale mesmo é observar o próprio organismo”, completa.
“De maneira geral, o problema é o ar sujo, pois ficam em circulação detritos no sistema do ar. Mas há também questões associadas à umidade e ao resfriamento intenso”, acrescenta o alergista e imunologista Jorge Andrade Pinto, professor da faculdade de medicina da UFMG. Ele explica que o uso prolongado do ar, principalmente no modo de recirculação, que impede a entrada do ar que vem de fora, pode agravar as deficiências respiratórias. A dica, além da manutenção adequada, é, de tempos em tempos, abrir as janelas para que seja feita uma renovação do ar dentro do carro. Mas isso, enfatiza, em ambiente de pouca poluição externa: “Se você está no meio de um engarrafamento, é pior abrir as janelas, pois o ar lá fora está muito contaminado”. O professor também alerta para o direcionamento do fluxo: “Por exemplo, se o ar está vindo diretamente nos olhos, mais sensíveis ao ressecamento, deve ser redirecionado”. Outro cuidado é com crianças e recém-nascidos, mais sensíveis que os adultos.
Uma dica interessante, conforme o engenheiro Jomar Napoleão, vice-presidente do Comitê de Veículos de Passeio da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), é antes de chegar em casa, desligar o ar-condicionado por cerca de três minutos, deixando ligado apenas o sistema de ventilação: “Faz uma limpeza e dá uma secada, pois o fungo prolifera na umidade”, explica.
Limpeza
Além da necessidade de se seguir o que diz o manual do carro, especialistas em manutenção de sistemas de ar-condicionado alertam para o fato de que veículos que circulam em ambientes de grande poluição, como nos grandes centros urbanos, e com outros tipos de impurezas, como as estradas de terra, devem ter o sistema checado com maior frequência. “Quem roda muito em trânsito pesado pode precisar de uma higienização a cada seis meses, devido à poluição, quando o normal é uma vez por ano. O sistema de quem mora em Sabará e não pega trânsito muito pesado provavelmente vai sujar menos”, compara o proprietário da Injet-Ar, Mauro Lúcio Ferreira. Segundo ele, sinais como o mau cheiro e a redução do fluxo do ar são indícios da necessidade de manutenção.
“Cinco pessoas suadas, vindas de um jogo de futebol, com certeza terão a tendência de contaminar mais o ar”, acrescenta o proprietário da Pinguim Centro Automotivo, Luiz Paulo Lamy de Miranda, alertando para o fato de que o ambiente também influencia no tempo de manutenção. Além do filtro comum, recentemente há filtros com carvão ativado, que ajudam a eliminar cheiros, mas, segundo os especialistas, são mais caros e não necessariamente produzem efeito. “Alguns veículos mais luxuosos, como os Mercedes Série E, têm dois filtros de carvão ativado, com 5cm de espessura, aí o carvão faz seu papel purificador. Mas esses filtros mais simples que estão aí no mercado não valem a pena, pois, de qualquer maneira, é preciso trocá-lo a cada seis meses”, avalia Mauro Ferreira.
Internet
Um e-mail circula pela rede, alertando para o risco de se ligar o ar-condicionado logo que se entra no carro, devido ao perigo do benzeno, substância cancerígena, que ficaria acumulada dentro do carro, decorrente de materiais empregados no painel, bancos e tubos de refrigeração. Nenhum dos especialistas encontrou fundamento na mensagem. O benzeno, de fato, é cancerígeno, mas, de acordo com os especialistas, não se tem notícia de seu uso em quaisquer das peças citadas ou de sua concentração dentro do veículo.