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Apego - Não vendo e nem empresto

Alguns proprietários ignoram que o carro é apenas um meio de transporte e passam a tratá-lo com cuidados exagerados, alimentando uma adoração por vezes incontrolável

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Fabiano Manzali comprou um Opala 1974 inspirado nas lembranças de sua infância

João Montsserrat - Estado de Minas

O carro não passa de um meio de transporte para a grande maioria das pessoas. Mas algumas o vêem de forma diferenciada, cada qual por seu motivo, nutrindo pelo automóvel um sentimento especial. Afinal, quem não gostaria de ter na garagem o veículo com o qual o pai ou avô o levava para passear quando criança, ou o primeiro carro, novo ou usado, comprado com aquela dificuldade? São motivos que, por mais que pareçam materialistas, na verdade, são de apego a um bem sem preço para seus proprietários.

É o caso do estudante Miguel Pezzuti, 23 anos, dono de um Uno Mille, modelo 00/01. Comprado usado pelo pai, o veículo ganhou até nome entre os amigos. "O carro chama Jago - fala-se Iago -, devido a um personagem de um jogo de videogame. Surgiu de uma brincadeira de amigos meus que nem têm veículo, mas que têm mania de por nome no automóvel dos outros. Eu não chamo pelo nome, claro, mas entre nós rola essa brincadeira", explica.

Pezzuti diz ainda que não quer se desfazer de seu Uno, mesmo pretendendo comprar uma moto por causa do trânsito e da quantidade de carros nas ruas. "Para mim ele é insubstituível. Quero ter a motocicleta como veículo primário, do dia-a-dia, e o carro para viajar, ou quando tiver que levar muita coisa para algum lugar. Gosto dele por ser meu primeiro carro. Considero fundamental na minha vida", afirma.

Miguel Pezzuti batizou o Uno, seu primeiro carro, com nome de personagem de videogame


O editor de vídeo Fabiano Manzali Brugger, 28 anos, também tem uma relação de afeto com seu veículo, um Opala 1974, devido à lembrança que tem do seu pai com o automóvel na infância. "Meu pai teve um quando eu era pequeno e comecei a gostar do veículo desde essa época. Depois juntei dinheiro, entrei em site para olhar carros e vi esse. Gostei tanto que já liguei, marquei de encontrar para vê-lo e o comprei", afirma.

A devoção pelo seu Opala é tão grande que Manzali mudou-se para Florianópolis, onde morou por um ano e meio, e quando retornou trouxe o veículo. Porém, no período que morou na capital catarinense, o automóvel foi castigado pela maresia. "Meu próximo passo é deixá-lo como novo. Lá em Florianópolis, com a maresia, sol e chuva, a tinta dele no teto praticamente acabou e tem ferrugem nos pára-choques. Estou juntando dinheiro para restaurá-lo", conta.

Fabiano, no entanto, lamenta que tenha perdido dinheiro em sua ida para a cidade litorânea, fato este que pode acabar tirando-lhe o Opala. "Talvez eu tenha de vender porque voltei sem dinheiro de lá, mas estou esperando um milagre acontecer para não precisar fazê-lo. Não tenho vontade de ter outro carro ou trocar. Gostaria de ter um para rodar e esse para curtir", diz com pesar.