A internet é, sem dúvida, um excelente espaço para quem quer comprar e vender um veículo. Mas alguns anúncios chamam mais a atenção para seus conteúdos esdrúxulos do que para o produto. Talvez a maior chance de erro exista porque, na internet, o espaço para escrever é bem maior que nos classificados dos jornais. Qual a impressão que fica ao ler um texto sobre um Chevette Hatch 1983, no qual seu dono abaixou o preço para vender pelo seguinte motivo: "O carro está largado, não tenho mais tempo para cuidar dele e ele está se acabando. Precisa de um dono rápido"? Ele segue dizendo que dá dó ver o carro sem cuidados e se lamentando por não ter aceitado uma oferta de R$ 7 mil. "E eu, de besta, não vendi", completa o vendedor.
Qualquer um sabe qual modelo é o Gol Bolinha. Agora, o que vem a ser um Karmann Ghia Bolinha. Quem entende um pouquinho consegue matar que se trata do primeiro modelo lançado, um cupê cheio de curvas que foi sucedido pelo TC. Pelo menos o proprietário não esqueceu de dar o ano do veículo, 1969. Como o TC foi lançado em 1970, fica mais fácil saber que se trata do primeiro cupê.
Mas ele até demonstra conhecimento sobre o veículo: "Em 1969, foram produzidas apenas 3.459 unidades. Trata-se de um exemplar da 2ª série de 1969, com o corte do para-lamas traseiro mais alto e ainda com motor 1.500". Pior foi encontrar mais um modelo classificado dessa forma: "Vendo Aero Willys ano 62, modelo bolinha". O comprador terá um pouco de trabalho até entender que a distinção foi feita porque, em 1963, o modelo em questão ganhou linhas mais retas.
PROCURA
Enquanto alguns oferecem, outros procuram por veículos. Mas tem gente que busca por coisas muito específicas: "Procuro picape com dívida e sem entrada, para que eu possa pagar no nome da pessoa. A prestação deve ser baixa. Veículo para trabalho. Não posso dar nada de entrada agora, e sim daqui a uns 20 dias". Até agora, temos pessoas que vendem, pessoas que procuram, mas também tem pessoas que apenas aceitam: "Aceito doação de carro da Volks antigo, mesmo que seja apenas para desocupar lugar. Gosto muito de carro antigo da Volks, principalmente SP2, mas não tenho condição de comprar".
FUSCA
E não é raro encontrar anúncios de Fusca que são classificados como raridades. São tantas raridades que o sentido desse adjetivo já foi para escanteio. O Besouro também inspira anúncios bem humorados, como o Fusca marrom-chocolate metálico, que traz um elogio feito pelo próprio dono: "É um bombonzinho". Tem também o Fiat 147 "relíquia", amarelo, com motor novo, som, alarme, trava, rodas aro 14 e tapeçaria do Clio.
Alguns anúncio, até assustam: "Vendo carros asidentados". Difícil é saber o que é mais assustador, o veículo acidentado ou o erro ortográfico. Mas o pior dos anúncios é o mentiroso. Um deles começa falando em um SP2, 1975, restaurado. Mas as fotos já entregam que o carro não está sequer montado. Só depois o vendedor entrega que se trata de um veículo em processo final de restauração e que falta ainda a montagem de tapeçaria, a parte elétrica, os frisos e vidros.
O BOM ANÚNCIO
Para Antônio Lúcio Dias Duarte, um dos sócios da ADM Automóveis, um bom anúncio deve prestar o máximo de informações relevantes para conseguir filtrar os interessados no veículo. "Dessa forma, você direciona melhor o produto, economiza o tempo do cliente e o nosso também", conta. De acordo com Antônio, muitos vendedores não gostam de passar o preço do veículo e sua quilometragem. No livro Arqueologia Mecânica (Editora Alaúde), para vender veículos antigos, o colecionador Rubem Duailibi recomenda redigir anúncios curtos e criativos. "Para despertar a curiosidade, o texto não deve trazer o preço do veículo", conta Rubem.