Chega a ser cruel tentar encontrar saldo positivo em guerras. Porém, pela ótica fria do racionalismo industrial, a necessidade de produção bélica gera frutos para a população. É o caso da indústria automotiva. Na Segunda Guerra Mundial, o eixo comandado pelos alemães pesquisou inúmeras inovações, entre elas, o Fusca, com o motor refrigerado a ar. Já pelo lado aliado, comandado pelos Estados Unidos, o governo encomendou aos fabricantes um projeto para a construção de um utilitário capaz de atender os soldados no campo de batalha. Três fábricas atenderam o pedido: Bentam, Willys Overland e Ford, mas foi a Willys que se tornou famosa por produzir o projeto mais adequado, além do maior número de Jeeps, como foi chamado o utilitário. Existem várias explicações para o nome, mas a mais plausível é que é proveniente da sigla G.P, de General Purpose (uso geral), que em inglês pronuncia-se jipe.
Até 1952, foram produzidos mais de 600 mil jipes, concentrando os esforços de produção da Willys. Também em 1952, em São Bernardo do Campo, foi fundada a fábrica brasileira, que começou a operar dois anos depois montando os jipes Willys americanos, vendidos com o nome de jipe Universal. Antes disso, entretanto, o utilitário já era vendido por aqui e, inclusive montado em regime CKD pela concessionária Gastal, do Rio de Janeiro.
A Associação de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) tem em seus registros o Jeep Willys como o primeiro utilitário nacional. Começou a ser montado antes mesmo do Romi-Isetta, considerado o veículo pioneiro. A Willys começou a produzir o Jeep brasileiro em 1954, com tração nas quatro rodas e devidamente abrasileirado com os para-lamas e capô arredondados. Chegou ao mercado em 24 de fevereiro, sendo que a Romi-Isetta chegou em 5 de setembro de 1956.
À época, o utilitário tinha 95,19% do peso nacionalizado e era um carro ideal para o país, ainda em construção e muito carente de estradas pavimentadas. Veículo ideal para as estradas vicinais de um país que deixava de ser rural, mais ainda transitava na poeira e dependia e muito da tração nas quatro rodas aliada à reduzida, além da mecânica confiável. Para se ter uma ideia, de 1954 até 1960, a Willys vendeu 54.314 Jeeps, ou seja, 74,85% dos veículos que produziu no período, que também incluem a Rural Willys, o Renault Dauphine e o Aero Willys.
Em 1957, começou a ser fabricado, de fato, no Brasil e, em 1959, recebeu o motor nacional, um seis cilindros em linha 2.6, que rendia 90cv e torque de 18,67kgfm com tração nas duas ou quatro rodas e câmbio de três marchas com redução, com a primeira seca, sem sincronização. Um atributo que fez a fama era a capacidade de superar inclinações de até 70%. O tanque ficava embaixo do banco do motorista, o que o deixava livre das pedras e de outros objetos pelo caminho. Em 1966, o Jeep, que era fabricado apenas na unidade de São Bernardo do Campo, passou a ser montado também em Jaboatão, em Pernambuco, e em 1967 a Ford adquiriu o controle acionário da Willys. Os modelos deixaram de ser fabricados gradativamente até o jipe sair do mercado, em abril de 1983.
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