O Departamento de Aviação Civil (DAC) migrou do Ministério de Viação e Obras Públicas para o então recém-criado Ministério da Aeronáutica em 1941, juntando-se à aviação militar e naval. Ele fora criado em abril de 1931 e se subordinava ao então Ministério de Viação e Obras Públicas. O seu quadro de pessoal passou a ser constituído por militares e civis oriundos da subordinação anterior.
Estava em curso a 2ª Guerra Mundial e ao seu término o DAC se deparou com um crescimento significativo de empresas aéreas. Os excedentes de guerra tornaram viável o ingresso de muitos empresários no segmento do transporte aéreo.
Durante os seus 75 anos de existência, o DAC acompanhou as mudanças nas empresas aéreas e nas aeronaves. Dos velhos DC-3 aos modernos jatos next generation a transição foi sem sobressaltos. O DAC só não experimentou a explosão atual de demanda de passageiros, que começa a arrefecer.
Ao longo dos anos, a sua estrutura foi acomodando interesses individuais e, ao ser criada a Anac, o DAC era uma instituição decadente.
Em março de 2006 ele foi substituído por uma agência reguladora, que fora gestada na época do governo FHC e se enquadrava na concepção administrativa daquele governo.
A transição do DAC para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não foi um processo sem turbulência. Logo após a sua implantação uma horda de apadrinhados tomou conta do prédio do Clube da Aeronáutica, em que estava instalado o antigo DAC.
Na esfera diretiva vários equívocos foram cometidos. A primeira diretoria da agência nada entendia de aviação, tendo apenas um coronel-aviador a orientá-la. Como as decisões passaram a ser colegiadas, normalmente não seguiam a lógica do negócio. É daquela época um acidente de grandes proporções no Aeroporto de Congonhas/SP, basicamente motivado por uma decisão equivocada.
A primeira diretoria foi substituída para evitar que a série de equívocos fosse aumentada.
Assumiu a nova diretoria uma equipe jovem, capitaneada por uma funcionária pública, que havia participado da criação do famoso fator previdenciário.
As ações de sua administração se basearam em apagar incêndios e gerenciar crises. Apesar de todo o espetáculo, as empresas aéreas sempre determinaram os passos que o segmento deveria dar. O fim de sua gestão foi medíocre, saindo pela porta de trás, como que reconhecendo o insucesso de sua administração.
Em julho, já existindo uma Secretaria de Aviação Civil, com status de ministério, foi empossado o novo diretor-presidente da Anac, em substituição ao coronel aviador Carlos Eduardo Pellegrino, que ocupara interinamente a Presidência da Anac. Na época do DAC atuante o correspondente a este cargo era ocupado por um oficial general de quatro estrelas.
O novo diretor-presidente, Marcelo Pacheco dos Guaranys, assumiu delineando três diretrizes: melhorar a vida dos usuários dos aeroportos, aumentar a qualidade dos serviços prestados pelas empresas aéreas e elevar os níveis de segurança do setor aéreo brasileiro.
Na melhoria da vida dos usuários dos aeroportos as ações começam a ser tomadas, mas ainda são tímidas. As empresas aéreas continuam ditando a qualidade de serviço que desejam prestar, ainda que tenha havido uma melhora na pontualidade e regularidade.
Na área da segurança operacional reside um sério problema da Anac atual. O número de acidentes continua crescente. Desconsiderando tudo o que de bom foi feito pelo DAC atuante, as novas ações são morosas. Exemplificando, um setor do DAC, o Instituto de Aviação Civil, produzira 15 manuais para os diferentes cursos de formação de pessoal. Desprezando este trabalho, em seis anos, a Anac conseguiu gerar um único manual, abrangendo a formação de piloto privado de avião. Dizem que estão trabalhando na formação por competência, mas com uma vista no manual produzido observa-se que ele não inova muito em relação ao que existia, a não ser nos avanços tecnológicos das aeronaves. Esta morosidade não está contribuindo para a melhoria da formação de pessoal para a aviação civil e o superintendente de segurança operacional da agência concorda com ela. Estão querendo reinventar a roda e atrapalhando a formação emergencial no segmento crítico da aviação de asas rotativas (helicóptero) para o atendimento das empresas petroleiras.
O setor de segurança operacional da Anac parece estar copiando as práticas do DAC moribundo e isto se soma à origem do questionamento: “Valeu a pena criar a Anac e mantê-la com sua estrutura atual?” Para quem sempre defendeu a substituição do DAC moribundo, a resposta está na máxima do grande poeta português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.