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Amigos franceses cruzam as Américas até chegar ao Brasil para a Copa do Mundo em um Citroën 2CV

Dois franceses rodaram mais de 25.000 km para mostrar a importância social do futebol; projeto prevê arrecadação de fundos para entidades beneficentes

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A eliminação da França pela Alemanha na Copa do Mundo pode ter sido um banho de água fria nos franceses, que esperavam o feito de 1998. Mas para dois deles, que vieram para o Brasil, a Copa teve outro propósito: a aventura. O desempenho em campo da seleção francesa pouco importava nessa jornada. Os amigos franceses cruzaram as Américas desde o Canadá até a Argentina e, então, entraram no Brasil para assistir à Copa do Mundo 2014. Este roteiro, por si só inusitado e altamente aventureiro, ganha ainda mais charme e emoção a bordo de um Citroën 2CV 6 Especial, fabricado em 1988 e... pintado como uma bola de futebol da década de 1970. A escolha dos países, a aquisição do carro e sua “caracterização” é apenas o começo da história dos franceses Eric Carpentier e Pierre Pitoiset ao decidir assistir à Copa no Brasil.

 

Veja mais fotos da aventura dos franceses pelas Américas no Citroën 2CV

 

Não se trata de uma viagem meramente recreativa. Ela faz parte do projeto “Pan American Futbol”, elaborado pela ONG “A Cup of The World”. O desafio de chegar ao Rio de Janeiro, partindo da França — onde o carro embarcou em navio para o Canadá — e percorrendo mais de 25.000 km em cerca de 180 dias, foi permeado por encontros em torno do futebol. A ideia é usar o esporte para juntar pessoas e criar uma convivência com diferentes povos e culturas durante a viagem. “Um desafio lúdico da viagem era jogar futebol todos os dias com as pessoas com quem encontrávamos. Fizemos o tanto quanto possível, tendo, em média, um jogo a cada três dias de viagem. Para nós, era um meio eficaz de encontro, uma forma única de convergência e troca com as pessoas”, explicam Eric e Pierre.

No Brasil, mais especificamente em Porto Alegre, a tripulação do Citroën 2CV ganhou um terceiro integrante, o também francês Marec Ludovic, temporariamente morando na Guiana Francesa. Os três afirmam ter “muitas coisas boas” para falar do Brasil: “A recepção e a hospitalidade das pessoas é surpreendente! Além da dimensão continental (que eles puderam conhecer na prática durante a viagem entre Porto Alegre e Rio de Janeiro), outro ponto que chamou muito nossa atenção foi a diversidade cultural. Evidentemente, o país respira o futebol, não havendo pessoas indiferentes: conhecemos todos os times e campeonatos do Brasil somente perguntando para as pessoas qual o seu time do coração”, brinca Eric. Mas, não satisfeitos com os 25.000 km rodados, os três aventureiros ainda têm um grande desejo: estacionar o Citroën 2CV dentro do Maracanã!

 

A viagem
ACitroën 2CV 6 Especial foi enviado de navio da França ao Canadá. Após os processos alfandegários, Eric e Pierre dirigiram até Nova York, Estados Unidos. De lá, seguiram para Washington, Atlanta, Nova Orleans, chegando a Nuevo Laredo, já na fronteira mexicana. Dirigiram então até a Cidade do México, seguindo pela Rodovia Pan-Americana para atravessar a Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Entre Colon e Cartagena, o percurso foi feito de barco. Já na Colômbia, a dupla retomou a Pan-Americana e seguiu para o Equador, Peru e Chile, até a localidade de Coquimbo.



Em seguida, Eric e Pierre subiram para a Cordilheira dos Andes por Paso Jama, “boa parte desta subida em primeira marcha, devido ao ar rarefeito, já que estávamos acima de 5.000 metros de altitude”, afirma Pierre. Passando para o lado argentino, a dupla buscou entrar no Brasil pela cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul. A partir daí, o roteiro em solo brasileiro passou pelos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. O restante da rota ainda não está definido: “Vai depender do tempo que teremos. Talvez conhecer as regiões centrais, como as cidades de Belo Horizonte e a capital Brasília”, afirmam.

O carro: Citroën 2CV 6 Especial
Mas por que utilizar um pequeno Citroën 2CV para uma viagem tão longa? Eric, proprietário do carro utilizado na viagem, responde: “O 2CV corresponde ao espírito do projeto, tanto em forma quanto em função. Seu desenho arredondado remete a uma verdadeira bola de futebol. Bastou adicionar algumas linhas para formar os gomos... No fundo, o Deuche (apelido do 2CV na França, derivado do nome em francês – “deux chevaux”) corresponde aos valores que queremos destacar: popularidade, universalidade e paixão. Ele foi o primeiro carro amplamente acessível na França devido à sua valentia e robustez, conquistando o coração de várias gerações de consumidores. Um verdadeiro ícone”, conta.

O Citroën 2CV foi comprado por Eric no final de dezembro de 2013, um mês antes do início da viagem. Tudo começou com o contato com uma congregação de freiras na França. “Lá ficamos sabendo que havia uma irmã que tinha o carro há mais de 20 anos. Negociamos e compramos o veículo, mas com a promessa de visitar uma das unidades da comunidade na América do Sul. Mais precisamente em Vallenar, no Chile. De 2CV...”.

Uma atenção especial foi dada para a manutenção do carro durante a viagem. Lubrificações, limpeza, trocas de óleo... tudo para manter “la deuche” o menor tempo possível parada. “Tivemos que realizar alguns acertos e adaptações na carroceria, uma troca de bobina, regulagens na marcha lenta e uma reparação do freio de mão (quando da travessia Panamá – Colômbia). Também tivemos trocas de pneus: 2 vezes cada pneu da frente, nunca atrás (mas vamos ter que trocar). Mas nunca tivemos um pneu furado!”, complementa Eric.

Mas e depois da viagem? Eric confessa ainda não saber quais os próximos passos com o Citroën 2CV. “O carro precisa voltar para a França, mas ainda não sei como... Talvez fique no Brasil, Argentina ou Chile até a Homeless Cup, em Santiago, participando depois do Encontro Internacional de Citroën 2CV em Coquimbo, no final de outubro. Aí vou repatriá-lo. Estou trabalhando para obter a verba necessária para isso.”