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Alfa Romeo - Corações pulsantes

A imortal marca italiana, símbolo da magia das pistas no pré-guerra, tem grande carga de emoção ao longo dos 100 anos de existência, comemorados em 24 de junho

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Surgida de um consórcio de banqueiros, que se dedicou a prosseguir na tentativa da Darracq, uma boa marca francesa do começo do século 20, de produzir em solo italiano seus carros, a Alfa, ainda sem Romeo, foi comprada pelo engenheiro Nicola Romeo no início dos anos 1920 para produzir material bélico e, como atividade complementar, alguns carros esportivos. Concebidas pelo primeiro grande projetista da marca, Giuseppe Merosi, os primeiros Alfa Romeo, que adotaram o sobrenome do novo dono, foram carros de alto preço e desempenho, mas curiosamente ainda com válvulas laterais, o que não favorecia o desempenho. Mesmo assim, os carros de Merosi triunfaram nas pistas, como o Alfa Romeo RL. Assim começou a lenda do Biscione, a cobra que simboliza Turim e que está até hoje no escudo da marca.

Lembranças do período dourado Como toda obra de arte, o crescimento da Alfa como marca e nas pistas teve um maestro na batuta: o imortal Vittorio Jano. Brilhante engenheiro vindo das hostes da Fiat, Jano revolucionou a imagem da marca dentro e fora das pistas ao introduzir uma característica mecânica que sobrevive até hoje nos carros de alta performance: o duplo comando de válvulas. Ter dois comandos, um para admissão e outro para escapamento, permite que a operação dessas funções seja muito mais precisa por ser independente. Assim, foi lançada uma nova serie de carros que se iniciou com o Alfa 6C1500 e prosseguiu até o supercarro dos anos 30, o Alfa 8C2900. Capaz de ir além dos 200km/h, em 1938, era um carro visto como uma Ferrari desses anos. Aliás, Enzo Ferrari começou como piloto das RL e se tornou o chefe da equipe de competição da marca nos anos 1930, com pilotos como Taruffi, Villoresi e o mestre máximo, Tazio Nuvolari. A derradeira da série foi a 158, de 1939. Escondida durante a guerra, foi rebatizada de 159. Foram os primeiros carros de Formula 1 e campeões, em 1950, do campeonato inaugural nas mãos de Guiseppe Farina.

Pós-guerra O clima depois da Segunda Guerra não era propício aos carros feitos à mão, de altíssimo custo e consumo de combustível. Era o caso das maravilhosas Alfa Romeo 6C2500, mas completamente inadequadas a seu tempo. Assim, em 1950, o terceiro gênio da marca, Orazio Satta Puliga, começou a desenvolver um carro que tivesse carroceria estampada na própria fábrica, nessa altura estatizada desde antes da guerra, quando Mussolini ordenou a um BNDES deles, o Instituto de Reconstrução Industrial (IRI), que assumisse o controle da marca e evitasse a falência de um símbolo da pujança do regime fascista.

Abaixo, assista a reportagem de Boris Feldman em que ele mostra dois modelos conversíveis da Alfa Romeo separados por quatro décadas



Assim, com o dinheiro do governo, Satta estabeleceu uma linha de estamparia de carrocerias de chapa de aço, mas com um projeto que permitia construir outros carros fora de série com facilidade. E assim surgiu a Alfa Romeo 1900, mãe do nosso JK e que terminou na Argentina com a carroceria servindo para hospedar um prosaico motor de Jeep Willys de quatro e seis cilindros, o Bergantín.

Em 1954, foi lançada a semente de todos os carros que sobreviveram até os anos 1960, na figura da bela Giulietta. Um cupê pequeno, com motor de 1.300cm³, era o que servia perfeitamente para estimular o crescimento da marca nos anos 1950 e depois com sua sucessora, a serie 2105 das Giulia. Muito conhecida no Brasil, essa série foi composta pelas Alfas GT Veloce, GTV e o cabriolet Duetto, objeto de desejo no Brasil dos anos 1960 e 1970, até a proibição das importações de automóveis, em 1975.

Paralelamente, foi desenvolvida uma serie de carros pequenos de tração dianteira chamada de Alfasud, porque eram fabricados em uma zona mais pobre da Itália, o Sul, na região de Nápoles. Dos modelos maiores desenvolveu-se uma nova série, composta dos modelos Alfa 75, 90 e uma nova GTV, todos de caixa de câmbio acoplada ao diferencial para prover melhor maneabilidade por ter o peso distribuído por igual nas quatro rodas. Daí para frente foi lançada a série de carros com tração dianteira, já sob o controle da Fiat. Isso deu origem às Alfas 155 e 164, bem conhecidas no Brasil, e posterior mente às 156, as ultimas a chegar ao Brasil, em 2004.

Célebre criações de Pininfarina, a Giulietta Spider de 1955 foi a precusora do longevo Alfa Spider, sucesso do filme 'A Primeira noite de um homem



No Brasil Em nosso país, a Fábrica Nacional de Motores (FNM), fundada durante a guerra para produzir motores de avião, teve a missão de fabricar os caminhões da marca italiana a partir de 1956. Os modelos eram o 9.500 e depois o 11.000, denotando a capacidade cúbica de seus motores. Muito duráveis e bem adaptados às condições hostis do país, foram durante uma época destaque no transporte pesado em nossas terras.

Em 21 de abril de 1960, foi lançado no mercado nacional a Berlina JK 2000 da série italiana 115, a sucessora da 1900. Dotada de um motor 2.0 de 95cv, era o carro mais rápido do Brasil naquela época, chegando a 160km/h. Foi também o primeiro carro brasileiro a ter pneus radiais e cinco marchas, um autêntico esportivo europeu da época. Foi evoluindo para o Turismo Internacional Modelo Brasil (TIMB) e, em 1960, teve sua capacidade cúbica aumentada para 2.150cm³ e 112cv, já com alavanca de câmbio no piso e freios a disco na dianteira, o primeiro carro nacional a tê-los. Assim foi fabricado até 1973. Em 1974, foi apresentada uma evolução do 2150 chamada Alfa Romeo 2300, que compartilhava a mesma plataforma. Montada em várias versões e cada vez mais sofisticadas, evoluiu para um carro que unia o luxo e a esportividade de modo bem diferente dos modelos das montadoras americanas sediadas no Brasil. Em 1978, teve sua produção deslocada para a fábrica da Fiat, em Betim, na qual foram construídas até 1986, quando o sonho do coração esportivo acabou.