UAI

Aeroporto de Confins está estrangulado em horário de pico

Publicidade
Foto:

Terminal de passageiros de Confins já se encontra estrangulado nos horários de pico


Deve causar estranheza a um passageiro que faz o seu check-in logo na abertura de um voo e recebe um bilhete marcado com uma poltrona na parte traseira da aeronave.

Mas não é para se estranhar, pois o sistema computadorizado está apenas alocando os ocupantes para que o centro de gravidade da aeronave seja mantido entre os limites de passeio permitido a ele. Cada uma tem o seu envelope de passeio do centro de gravidade (CG), que deve ser respeitado para que ela tenha um voo equilibrado. Como nas aeronaves de asa fixa os tanques de combustível ficam nas asas e eles puxam o centro de gravidade para a frente, é necessário buscar o equilíbrio distribuindo a carga primeiramente na parte traseira.

Assim, é possível dizer que uma aeronave voa numa condição de equilíbrio instável, pois se o CG sair dos seus limites a operacionalidade ficará prejudicada.

O mesmo equilíbrio instável já pode ser verificado em alguns aeroportos brasileiros, provocando perdas financeiras. Um avião em voo numa condição de espera para aterrissagem significa perda.

Um aeroporto deve ser olhado como um conjunto harmonioso. Deve haver um equilíbrio entre o estacionamento de veículos, a estação de passageiros, o pátio de manobras e a pista de pouso e decolagem.

Quando a autoridade aeronáutica autoriza uma empresa a operar num aeroporto, ela deve estar atenta para esse equilíbrio. Como parece não estar havendo tal cuidado, já encontramos aeroportos estrangulados nos horários de maior movimento.

Numa visão de curto prazo, a autoridade aeronáutica está preocupada em adequar o terminal de passageiros à capacidade da pista de pouso e decolagem. A postura em relação à Copa do Mundo e às Olimpíadas é de uma visão pequena.

É preciso olhar mais a frente e buscar sempre o equilíbrio entre os quatro componentes de um aeroporto.

Não se trata de uma tarefa tecnicamente difícil e a solução passa por entregar a infraestrutura aeroportuária à iniciativa privada.

A Infraero cumpriu muito bem o seu papel, mas sofre dos mesmos sintomas que determinaram a sua criação. Não há disponibilidade e agilidade em recursos para que ela atenda a demanda. A empresa precisa deixar de ser estatal e não existir apenas para atender à demanda de recursos. Se isso não ocorrer, o transporte aéreo no Brasil, que ainda é pequeno frente aos países mais avançados, continuará estrangulado.

Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas apresenta um panorama da situação dos principais aeroportos até 2030.

Entre os 19 aeroportos analisados, nenhum escapa ao desequilíbrio entre pista, pátio e terminal de passageiros num horizonte que abrange o período de 2014 a 2030.

No caso específico do aeroporto de Confins, o estudo evidencia que o terminal de passageiros já se encontra saturado no horário de maior movimento. A pista de pouso e decolagem apresenta capacidade operacional para até 2030 e o pátio de estacionamento ficará estrangulado em 2020. Salta aos olhos a situação calamitosa do estacionamento de veículos do nosso aeroporto. Ela está impondo ao usuário uma longa caminhada sem nenhuma proteção contra as intempéries.

No terminal aeroportuário da capital paulistana (Congonhas), o desequilíbrio entre pista, pátio e terminal de passageiros é total. Só não há um estrangulamento aparente no estacionamento de veículos porque a Infraero construiu um prédio garagem. Prédio garagem que poderia ter sido adotado no plano diretor do aeroporto de Confins. Se ele tivesse a altura da maior construção contígua, poderia duplicar a sua capacidade, além de proporcionar mais proteção aos usuários. Na situação atual ainda não foram registrados casos de delinquência, mas as condições são favoráveis para isso.

O estudo apresenta o nível de investimento necessário para diferentes horizontes. Serão necessários entre R$ 24,5 bilhões e R$ 33.6 bilhões para que o equilíbrio em apenas três componentes de um aeroporto seja alcançado.

Como o governo não dispõe de tal montante, a melhor solução é privatizar totalmente o sistema aeroportuário nacional, encerrando o ciclo estatal da Infraero e encontrando uma solução jurídica adequada, além de fazê-la disputar mercado com outras grandes operadoras de aeroportos existentes em países mais avançados.

Se o governo demorar a agir, o equilíbrio instável de vários aeroportos se agravará e, como uma aeronave mal balanceada, ficará complicada a sua operacionalidade.