O presidente do Instituto das Concessionárias do Brasil, Evaldo Costa, passou 18 dias na China este ano e ficou espantado com a o nível de acabamento das motocicletas chinesas. "Vai movimentar o mercado nacional. Existem modelos bonitos, com design moderno e que podem competir com os que são produzidos aqui", afirma. O volume de produção também assustou Evaldo: em apenas uma fábrica, são fabricados por ano 1,2 milhão de modelos e mais 800 mil motores. A China produz cerca de 17 milhões de motos de quase 200 marcas por ano, que corresponde a 50% da produção mundial. Porém, a visão de Evaldo foi uma exceção à regra. A maioria dos fabricantes produz modelos de pequena cilindrada, com tecnologia obsoleta e anacrônicos problemas de qualidade.
O caminho que seguem - e já trilham no Brasil - é a conquista de mercados externos, fabricando ou montando modelos nos países em que as motos serão compradas e se associando a grupos locais, conhecedores das condições do mercado. Não só países subdesenvolvidos são destinos desses produtos. Até mercados tradicionais, como a Europa, sentem o efeito. Na Itália, a tradicional marca Benelli, fundada em 1927, foi comprada pela gigante Qianjiang. A intenção da chinesa com o negócio foi reforçar o status e vencer resistências para vender motos e scooters em grande escala nos Estados Unidos e também na Europa. Outro resultado da invasão é a presença das marcas chinesas nos principais salões de motos do mundo, com direito a pavilhões específicos.
Qualidade
O problema é que a reputação das motocicletas chinesas ainda provoca forte rejeição, devido ao desenho, visual, qualidade e tecnologia ultrapassada, quase sempre clonada de outros modelos. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Motonetas (Abraciclo), formada por Honda, Yamaha, Harley-Davidson, Kasinski e Sundown, tem restrições às motos chinesas. O diretor-executivo da entidade, Moacyr Alberto Paes, explica que o fato de o Brasil ser um dos cinco países com maior frota desses veículos chama a atenção das fábricas de todo o mundo e não poderia ser diferente com a China.
"Na China, existe uma grande variedade de produtos, com diferentes padrões de qualidade. Uma moto de 250 cm³ é vendida por US$ 300", afirma Paes. O baixíssimo preço se deve a uma soma de fatores, que vão da farta mão-de-obra, redução de impostos, restrições às importações e os incentivos às exportações. Com isso, ressalta Paes, importar motocicleta chinesa para vender no Brasil, com o atual câmbio, virou ótimo negócio.
Também informa que a Abraciclo os importadores oportunistas preocupam muito a Abraciclo. Ele esclarece que quem quer ser sério precisa assegurar a manutenção, o que inclui peças de reposição e rede de concessionários, além da garantia. Como muitos modelos chineses são cópias de motos da Honda e Yamaha da década passada, o argumento - com cara lavada - é de que as peças de reposição já existem no mercado. Porém, Paes ressalta que em muitos casos a peça original pode não se adaptar totalmente. "É similar, mas não é idêntica", afirma. Outro problema são as peças piratas, com embalagens originais falsificadas, mas que por terem qualidade duvidosa podem comprometer a segurança.
Uma ponderação dele que toca na parte mais sensível do brasileiro - o bolso - deve ser considerada na hora da compra. Segundo Paes, marcas sem tradição e que podem ficar no meio do caminho farão de suas motos mico de mercado. "A chance de perder dinheiro é muito grande", afirma.
Para reduzir tanta desconfiança, engenheiros brasileiros foram e viajaram à China, para tentar adaptar a produção ao padrão nacional. Foi o que a Green Motos fez para importar. O diretor-geral, Mário Zidan, explica que foi desenvolvido grafismo específico, trabalharam o design e que só depois de vários testes o grupo decidiu pôr o nome no produto. "Existe muito aventureiro nesse mercado. É parecido com o que aconteceu com os japoneses, quando começaram a importar para o Brasil", lembra Zidan.
Japoneses
Nas décadas de 1950 e 1960, os fabricantes japoneses copiavam sem pudor as principais marcas européias, até terem qualidade e tecnologia para virar o jogo. A história se repete com as chinesas. Suas motos quase sempre são cópias das japonesas da década passada, mas começam a mostrar qualidade e tecnologia própria, repetindo o ciclo. Apesar de a indústria brasileira do setor ser relativamente nova, implantada em 1970, as motocicletas que produz em seu parque têm qualidade reconhecida internacionalmente, exportadas para os Estados Unidos e Europa, o que deixa o consumidor nacional acostumado com um produto de bom nível, o que é mais um desafio para os chineses.