De Adria, Itália - A soma do nome Meccanica Verghera com o do conde Domenico Agusta, temperada pela paixão por motocicletas e velocidade, se transformou em MV Agusta, que virou uma espécie de mito em duas rodas quando se fala de esportividade. Curiosamente, entretanto, a marca nasceu no “ar”, produzindo peças aeronáuticas e helicópteros. No chão das pistas, a dupla formada especialmente por Giacomo Agostini e MV Agusta fez história, conquistando 37 títulos mundiais nas diversas categorias da motovelocidade. Relançada em 1997, depois de um período de hibernação, a marca italiana fez questão de resgatar um pouco desse passado com a superesportiva F4, cuja decoração lembra o consagrado modelo vencedor com Agostini.
Esse mesmo modelo agora também tem um sotaque caboclo, pois está sendo produzido no Brasil, em Manaus (AM), em parceria com a brasileira Dafra. É a primeira vez que ela é fabricada fora da Itália. Reverenciando o passado, mas de olho no futuro, a F4 não economizou nos componentes nem nos fornecedores, além de incorporar tecnologia de ponta. O motor de quatro cilindros em linha e 998cm³de cilindrada foi desenvolvido com ajuda da conterrânea Ferrari e gera nada menos que 186cv de potência a 12.900rpm e 11,4kgfm de torque a 9.500rpm. Trata-se de uma primorosa “embalagem”, assinada pela badalada escola de desenho italiana, capaz de provocar torcicolos por onde passa.
ANDANDO
A marca também vai produzir no Brasil a irmã Brutale, que é a F4 sem roupagem (ou naked), com motor ajustado para as exigências do segmento; e importar para o nosso mercado os modelos especiais com motor Corsa Corta e Série Oro. Para conhecer a intimidade desta italiana, fomos até a fábrica, que fica em Varese, próximo a Milão, no Norte da “bota”. Depois, partimos para o seu hábitat: a pista do autódromo de Adria, na região do Vêneto, província de Rovigo. Com 2.730m de extensão, a pista mescla uma grande reta com curvas de vários raios. Com segurança e no local apropriado para acelerar, toda a tropa pode ser liberada, junto com muita adrenalina.
A esportividade, porém, tem seu preço. Para obter o melhor desempenho possível, a ergonomia sacrifica o conforto, obrigando o piloto a assumir uma posição encurvada, o que dificulta rodar no trânsito no dia a dia. Contudo, o consumidor deste segmento exige essa postura e fica bem longe dos engarrafamentos. Na pista, o modelo fica à vontade. O motor gosta de giros e não reclama quando o cabo é enrolado. O conta-giros fica na “cara” do piloto, dentro do grande painel totalmente digital, e deve ser conservado próximo dos 10.000rpm, quando o som do motor vira música, para descobrir que as retas acabam muito cedo: a moto acelera de 0 a 100km/h em menos de 3 segundos e se aproxima dos 300km/h de velocidade final.
EMBALAGEM
Para brecar, um conjunto de duplo disco (de 320mm de diâmetro) na dianteira, com pinças Brembo radiais.; e simples (de 210mm) na traseira. Usado sem parcimônia, os freios transmitem segurança para desacelerar, condição fundamental para também acelerar. Quando foi lançada, os escapes tinham ponteiras redondas com saída sob a rabeta. A última atualização de estilo conservou a arquitetura e a alma das formas originais, mas incorporou ponteiras quadradas. A “embalagem” manteve uma carenagem integral, com bolha e para-brisas, além de um tanque que proporciona bom encaixe para as pernas – o que é fundamental na condução esportiva –, junto com conjunto óptico pequeno, de farol único.
A preocupação com a aerodinâmica chega ao requinte de incorporar as setas aos retrovisores, que por sua vez são vazados, para facilitar a passagem do ar. Detalhes que só são descobertos em altas velocidades, quando melhoram o conforto. A suspensão dianteira é invertida, com tubos de 500mm de diâmetro e 120mm de curso. A suspensão traseira é do tipo mono, com 120mm de curso também. Ambas são ajustáveis, uma condição imprescindível para cada piloto. A balança traseira é em alumínio, com belo conjunto monobraço que deixa à mostra a roda traseira em liga leve, com aro de 17 polegadas. O quadro tem tubos em treliça e peças em alumínio. O câmbio tem seis velocidades. O peso a seco é de 192 quilos.
(*) Viajou a convite da MV Agusta-Dafra