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MORDOMIA NA MOTO

Transmissão automatizada: fim do manete esquerdo?

O manete de embreagem está em extinção com o avanço de novas tecnologias que automatizam o acionamento do câmbio de forma rápida e suave

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A manete de embreagem no lado esquerdo da moto está cada vez mais em extinção
A manete de embreagem no lado esquerdo da moto está cada vez mais em extinção Foto: Honda/Divulgação

Pilotar sem utilizar o manete esquerdo do guidão, sem controlar a alavanca da embreagem, não é mais uma quimera e vai se popularizando aceleradamente. Controlar o momento de trocar as marchas, desacoplando o motor do câmbio, via acionamento da embreagem, deixou de ser um dogma sagrado, caducado pela engenharia. Os scooters, por exemplo, com o câmbio continuamente variável, CVT, nem têm o manete de embreagem, que em seu lugar aciona o freio traseiro.

A motoneta Honda Biz também não tem o manete, porém, tem o câmbio semiautomático rotativo com embreagem centrífuga automática. Com as versões 110cm³ e 125cm³, foi o segundo modelo mais vendido do Brasil em 2023, com 216.933 unidades. O recém-lançado Honda Pop 110i ES, modelo mais acessível da marca, também aboliu o manete de embreagem, com sistema semelhante ao da Biz.

Honda e-Clutch motor e transmissão de moto Honda em estúdio
O sistema da Honda, batizado de E-Clutch, equipa a CBR 650R e a CB 650R Foto: Honda/Divulgação

O câmbio de dupla embreagem, Dual Clutch Transmission (DCT), que equipa versões da Honda CRF 1100 Africa Twin e da NC 750X, exclue a alavanca da embreagem e do pedal de câmbio, assim como nos modelos misto de moto e scooter X-ADV750, e na luxuosa estradeira Gold Wing Tour 1800. As motocicletas elétricas nem “sabem” o que é pedal de câmbio e manete de embreagem.

Tecnologia elétrica

Outra tecnologia também avança na extinção do manete esquerdo. A embreagem de acionamento eletrônico. A Honda apresentou no EICMA (Salão de Milão de novembro de 2023) o sistema que batizou de E-Clutch e já equipa (lá fora) os modelos CB 650R e CBR 650R. Bem mais leve, compacto e econômico, permite arrancar, trocar as marchas de forma manual ou automática e parar sem usar a alavanca, que, porém, também está lá e pode ser usada se o piloto preferir.

Honda CB 650R verde e CBR 650R vermelha com detalhes em azul e branco com E-Clutch ambas de frente estáticas no estúdio
A Honda tem as quatro cilindros CB 650R e CBR 650R com a E-Clutch Foto: Honda/Divulgação

A Yamaha também está desenvolvendo um sistema de embreagem eletrônica que permite mudar as marchas sem ajuda do manete esquerdo. Algo semelhante já foi instalado na estradeira FJR 1300 desde 2006, com o nome de Yamaha Chip Controlled Shifting (YCCS ). Porém, não se trata de um simples quick shift. Vai além, possibilitando a condução de modo automático, por exemplo.

A tecnologia vai ser empregada inicialmente no modelo MT-07 (que também está no mercado nacional) e depois em toda a gama que utiliza os motores de dois cilindros paralelos CP2. Ténéré 700, a próxima a desembarcar no Brasil, a Tracer 7 e a XSR700.

A japonesa Kawasaki também usa sistemas eletrônicos semelhantes nos modelos Z7 e Ninja 7 Hybrid. A austríaca KTM também desenvolve eletrônica neste sentido, além da BMW, que já tem pronto o sistema.

Diagrama do sistema de transmissão automatizada da Yamaha detalhando os componentes
A Yamaha mostrou um diagrama do sistema de transmissão automatizada Foto: Yamaha/Divulgação

Como funciona?

Com o nome de Automated Shift Assistant (ASA – Assistente de Trocas de Marchas Automatizada), a BMW já vai equipar a nova R 1300 GS com motor boxer de dois cilindros, a partir do segundo semestre de 2024. Com apenas 2,1kg, dois atuadores eletromecânicos controlados eletronicamente automatizam a embreagem e não deixam o motor apagar.

Sensores percebem a rotação do eixo da transmissão e a posição da embreagem que são processados pela unidade de controle de transmissão. O atuador com um sistema hidráulico engata a embreagem nas trocas de marchas e desengata ao parar. O piloto pode optar pelo modo M manual, comandando o câmbio pelo pedal, ou pelo modo D, em que o sistema troca e reduz as marchas sozinho, de forma automatizada, sem trancos.

Esboço de Sistema de transmissão automatizada da BMW que equipa a R 1300 GS
Sistema de transmissão automatizada da BMW que equipa o motor boxer da nova R 1300 GS Foto: BMW/Divulgação

O sistema da Honda pesa ainda menos. Apenas 2kg e usa uma mistura dos conceitos do quick shift e da dupla embreagem DCT. O ponto de ignição do motor e a injeção são controlados. O E-Cluth gerencia o engate e desengate da embreagem com base na velocidade, abertura do acelerador, rotações e marcha engatada.

A embreagem é engatada com um atuador operado por dois motores e permite ainda a opção de intensidade em três níveis do pedal de marchas que continua presente. A alavanca de embreagem também permanece no guidão, e pode ser usada. Porém, o sistema oferece a opção do modo automático, sem ajuda do manete, para arrancar ou parar (sem deixar o motor “morrer”) com trocas rápidas e suaves.

O que vem da China

A surpresa vem da China com a Zongshen, por meio de sua marca premium Cyclone. Em abril, apresentou o modelo Cyclone AQS 401 com o sistema automático de mudança das marchas, batizado de Automatic Quick Shift (AQS ). A Cyclone AQS 401 tem motor de dois cilindros em linha com 400cm³, duplo comando e gera 45cv. O visual é uma cópia da Harley-Davidson bobber Sportster S, entretanto, sem o pedal de marchas e o manete de embreagem.

Cyclone AQS 401 com transmissão automatizada estática no estúdio
A Zongshen Cyclone AQS 401 nem tem o pedal de marchas Foto: Zongshen/Divulgação

Atuadores elétricos acionam a embreagem para mudanças de marchas totalmente automatizadas ou de forma manual, por meio de aletas no guidão. A surpresa é que a China sinaliza que este tipo de tecnologia, mais simples e “barata”, vai viabilizar o acesso para motos de menor porte.

A Zongshen, fundada em Chongqing por Zuo Zongshen em 1992, já esteve no Brasil com os modelos Dafra Kansas 150, Hunter 100 e V-Blade 250 da Sundown. A Kasinski também tinha produtos Zongshen, como o scooter Prima 150. Exceto a Dafra, todas as outras marcas sucumbiram.

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