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Redução de impostos ajuda, mas faltam soluções de médio prazo

Governo federal anunciou o corte em impostos para se chegar a carros com preços mais acessíveis, mas não revelou por quanto tempo a medida valerá e nem se os juros de financiamento serão reduzidos

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Modelos “pelados” da década de 1990, como o Fiat Uno Mille, custariam hoje R$ 80 mil só com a atualização monetária
Modelos “pelados” da década de 1990, como o Fiat Uno Mille, custariam hoje R$ 80 mil só com a atualização monetária Foto: Modelos “pelados” da década de 1990, como o Fiat Uno Mille, custariam hoje R$ 80 mil só com a atualização monetária

O plano anunciado pelo governo federal para aliviar a carga tributária, com redução de impostos sobre automóveis de até R$ 120 mil teve forte viés político e mostrou uma lamentável descoordenação ao não detalhar de imediato por quanto tempo será válida (ora se fala em quatro meses, ora em um ano). Também não se resolveu a questão de financiamento. O mercado, que estava em ritmo razoável, parou quase completamente. Já comentei aqui não ser possível recriar a categoria de “carro popular” nos tempos atuais, considerando as exigências de emissões e segurança. Modelos “pelados” de 1993 custariam hoje R$ 80 mil só com a atualização monetária.

Há uma categoria de automóveis baratos no Japão, o verdadeiro carro de entrada, chamado de kee-jidosha (carro leve ou simples, em japonês). Foi criada em 1949, com motor de apenas 360cm³ de cilindrada, em uma época em que o país se recuperava da 2ª Guerra Mundial. De acordo com a Wikipedia, foram feitas quatro atualizações, a última em 2014: cilindrada de 660cm³, comprimento de apenas 3,45m (Fiat 147 tinha 3,62m), no entanto, reduzindo as vantagens fiscais. Nenhuma chance de replicar algo semelhante aqui.

Note que o problema atual de baixas vendas da indústria automobilística é mundial, ainda um reflexo da pandemia da COVID-19. Por outro lado, o Brasil tem a maior taxação média do mundo para automóveis. Então, a redução de impostos anunciada entre 1,5% e 10,79% (do mais caro ao mais barato) funcionará como estímulo, porém, o reflexo maior nas vendas deverá ocorrer se for oferecido financiamento a juros menores. Há informações desencontradas ou especulativas a exemplo de autorização de uso parcial do FGTS, embora isso exija mudar a lei (por Medida Provisória) que estabelece sua utilização apenas para aquisição de imóveis.

Logo após o anúncio precipitado da redução de impostos, faltando pormenores, houve opiniões estapafúrdias repercutidas pela imprensa. Uma delas indicava ser “absurdo dar estímulos a carros com motor a combustão em um governo com discurso ecológico”. Falta coerência, porque carros elétricos já têm um polpudo incentivo de 35% sob forma de isenção do imposto de importação, e também desconto de IPI e IPVA (este em alguns estados). Houve economista que discorreu ser preciso “forçar a exportação” e para tanto advertiu que “elevados elementos de conteúdo nacional reduzem a qualidade”. E ainda citou a Embraer, “que não tem requerimento de conteúdo nacional e por isso que seu avião é bom”. Sem comentários.

Por enquanto, supondo-se o desconto provisório máximo, com redução de impostos, aplicável aos dois modelos subcompactos (Fiat Mobi e Renault Kwid), que partem do preço sugerido atual de R$ 69 mil, poderia cair para algo em torno de R$ 61 mil. Com uma outra simplificação cosmética e um aperto na margem dos fabricantes, talvez possa ser vendido à vista por R$ 59.990 (simbolicamente abaixo de R$ 60 mil).

Claro que redução de impostos ajuda, mas terá que haver financiamento atraente (prazos e juros). Não se sabe ainda nem de onde virá a compensação da perda de receita, talvez criando novo imposto (ainda não aprovado) sobre apostas esportivas pela internet. Na outra ponta, a de R$ 120 mil, quem sabe surja alguma versão específica para se enquadrar no desconto mínimo, mas não por apenas quatro meses.

Quanto a redução de impostos garantirá de aumento nas vendas este ano é algo difícil de prever. Nos outros programas de descontos provisórios com IPI zerado criou-se, de fato, demanda basicamente concentrada em antecipação de compras. Algo do tipo “compre antes que acabe a oferta”.

Sem uma estratégia que passe obrigatoriamente pela reforma tributária decente e diminuição efetiva do custo Brasil, a volta aos quase quatro milhões de unidades em 2030, entre veículos leves e pesados, comercializadas em 2012 (o dobro do que se vende atualmente), pode se transformar em “Sonho de uma noite de verão”, da comédia de William Shakespeare.

Maverick Hybrid surpreende pelo baixo consumo de combustível

Primeira picape híbrida no mercado brasileiro destaca-se até frente às concorrentes a diesel, mesmo usando gasolina. Mas há diferenças de origem: a estreante vem do México, sem imposto de importação (II) e a segunda dos EUA (35% de II). A Ford Maverick Lariat Hybrid tem o exatamente o mesmo preço da Maverick Lariat FX4: R$ 244.890.

O novo modelo conta com tração apenas dianteira e motor a gasolina 2.5 litros, de aspiração natural, 165cv e 21,5kgfm, além do elétrico de 128cv e 23,9kgfm. A Ford informa potência combinada de 194cv, porém, a exemplo de Toyota e Honda, não indica o torque combinado pela impossibilidade de medi-lo em soluções híbridas. O câmbio é automático e-CVT.

A Ford Maverick Hybrid, de fato, perde na clássica aceleração até 100km/h em relação à FX4 de tração 4x4 com números vistosos de 253cv e 38,7kgfm. Entretanto, no dia a dia em trânsito urbano, mostrou agilidade graças à ajuda do torque instantâneo do motor elétrico.

Impressiona na Hybrid o silêncio a bordo e o baixo nível de vibração. Numa jornada longa, motorista e passageiros chegam mais descansados, principalmente se comparada às picapes a diesel. O motor elétrico exige uma bateria de apenas 1,1kWh e responde pela grande economia de gasolina.

Na homologação oficial do Inmetro, há vantagem sensível no ciclo urbano: 15,7km/litro contra apenas 8,8km/litro da Maverick convencional; em estrada, a diferença é menor: 13,6km/l e 11,1km/l. No mundo real, os números são melhores. Durante a avaliação, alcançou 19,1km/l (cidade) e 16,5km/l (estrada), porém, com modo Eco acionado.

No interior, a tela multimídia poderia ser maior que oito polegadas. Materiais de acabamento têm aspecto um pouco espartano porque, afinal, se trata de um produto voltado ao mercado americano de massa. Um recurso interessante de segurança: ao abrir a porta do motorista, a posição P no câmbio é acionada automaticamente.

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