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Ponta do Camarão

Único motor era o do gerador de energia elétrica. Até que surgiram motoqueiros irresponsáveis para perturbar as minhas férias

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Planejei férias com descanso até de automóvel. Viajei de avião e fui de táxi para a pousada. Lá, o único motor era o do gerador, porque à paradisíaca Ponta do Camarão (Sul da Bahia) ainda não chegou a eletricidade pública. A praia (perto de Caraívas) é quase deserta. De vez em quando passa um turista ou um índio (pataxó) de uma tribo nas imediações.

Mas o que é bom dura pouco: numa bela manhã começam a passar motos na praia, apesar de ? obviamente ? proibido. Eram duas ou três e davam a impressão de mototáxi, sempre carregando alguém na garupa. E sempre em alta velocidade. Incomodavam pelo barulho e pelo risco que representavam.

Até que o (previsível) imprevisto aconteceu: uma delas atropelou e matou um pacato cachorro labrador que passeava na praia com o dono. A moça (freguesa?) que ia na garupa foi atirada longe e se esborrachou na areia, ferindo gravemente o rosto.

O labrador foi enterrado ali mesmo na praia, por seu dono em prantos. A moça foi levada para o hospital mais próximo, em Porto Seguro. E, até eu deixar a pousada, o irresponsável do motoqueiro ainda não tinha sido identificado.

Pego o táxi de volta para o aeroporto, em estrada parte de terra, parte asfaltada. Éramos dois casais no Dobló e só nós, os passageiros, afivelamos os cintos. Perguntei ao motorista se ele tinha se esquecido. ?Não, eu só o coloco quando chego a Porto Seguro, onde há fiscalização.? Diante da minha argumentação da importância do equipamento, ou talvez para se ver livre do meu inflamado discurso, ele o afivelou. Curiosamente, ele mesmo contava que a estrada ? principalmente no trecho de terra ? era perigosa e acidentes aconteciam com certa frequência entre carros que escorregavam e perdiam a aderência.

Reparei outros carros na estrada. Em alguns, ninguém usava o cinto. Em outros, só os que se sentavam na frente.

Foram férias perfeitas, exceto pela frustrada tentativa de me distanciar de entes e não me preocupar com eles. Mas me esqueci de combinar com os motoqueiros e motoristas da região. Porque a grande maioria deles, não só no Sul da Bahia, como em todo o país, só respeitam a lei quando pressionados pela fiscalização. Pelo policiamento ostensivo.

Só não ultrapassa a velocidade máxima quando suspeita de radar no pedaço. A Lei Seca só o atemoriza onde é constante a presença do bafômetro.

Sem policiamento, as motos vão continuar circulando nas praias, cintos de segurança não serão afivelados, o excesso de velocidade e as imprudências vão continuar matando e ninguém deixará de dirigir depois de beber.

Legislação sem fiscalização é inócua e vira conversa para boi dormir.

Além disso, o brasileiro está convencido de que acidente só acontece com o vizinho...