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Petrobras: não sou 'lambona'

O diesel 'mais limpo' não é distribuído por preocupação com o meio ambiente, mas para evitar pesadas multas e ter dirigentes processados judicialmente

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Lúcio Pimentel, gerente de imprensa da Petrobras, enviou a seguinte resposta à redação:

?Sobre o artigo de Boris Feldman ? "Guerra aos lambões", publicado por este jornal, a Petrobras reafirma que não descumpriu a Resolução 315 do Conama, que determinava limites para as emissões veiculares e não trazia especificações do combustível a ser fornecido. Mesmo antes da regulamentação feita pela ANP, a Petrobras começou a investir na tecnologia para melhorar a qualidade do diesel. Desde janeiro deste ano, os ônibus urbanos das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo passaram a receber o diesel 50, com baixo teor de enxofre. Em maio, o combustível foi fornecido para todos os veículos a diesel das áreas metropolitanas de Fortaleza, Recife e Belém. Em agosto, foi a vez de Curitiba. Em janeiro de 2010, o combustível será fornecido para os ônibus urbanos de Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e da região metropolitana da Cidade de São Paulo. Gradativamente o combustível será fornecido em todo o país. É importante ressaltar, e o próprio articulista reconhece isso ao chamar atenção para a necessidade de inspeção veicular, que não é apenas o diesel que influencia a qualidade do ar. Primeiro, porque o enxofre impacta somente o material particulado (sem influência nos demais poluentes). Além disso, o diesel com 50 ppm de enxofre só é efetivo quando utilizado em motores com tecnologia avançada. Os benefícios em termos de material particulado ainda são pequenos nos motores atuais e, como o próprio articulista destaca, pelo menos a metade da frota de carros usados do Brasil tem mais de cinco anos de fabricação. Mesmo sem as tecnologias automotivas mais eficientes ambientalmente, a Petrobras começou a distribuir o diesel S-50 para o mercado brasileiro. Os motores com a nova tecnologia somente estarão disponíveis a partir de janeiro de 2012.?

Minhas observações
1 ? A Petrobras sabia da Resolução 315 desde 2002. E jamais se queixou (publicamente, pelo menos) de a Agência Nacional de Petróleo (ANP) não ter cumprido o prazo (três anos antes de vigorar os novos limites) para estabelecer as características do novo diesel.

2 ? A Petrobras não iniciou a distribuição do diesel ?mais limpo? (de 50 ppm de enxofre) por estar preocupada com o meio ambiente, mas porque fez parte de um acordo de ajuste de conduta com o Ministério Público Federal, em São Paulo. Ou seja, para evitar pesadas multas e ter dirigentes processados judicialmente.

3 ? Ao contrário do que diz Lúcio Pimentel, o diesel com alto teor de enxofre não impacta apenas na emissão de particulados, mas também a de óxidos de enxofre. Que não são regulados no exterior pelo óbvio motivo de contarem com um diesel muito melhor que o nosso.

4- Os fabricantes de motores a diesel no Brasil não desenvolveram novas tecnologias para reduzir emissões simplesmente porque a Petrobras não disponibilizou o diesel com baixo teor de enxofre em prazo hábil para seus testes.