Experimente o prezado entrar numa loja de acessórios na Europa e adquirir um chip ou turbina para aumentar a potência do motor. Ela vende, mas não entrega no balcão: só direto na oficina – sob responsabilidade de um engenheiro – onde estiver o automóvel, pois o governo exige que o repotenciamento seja acompanhado de uma adequação na suspensão e freios. Essa exigência soa como piada aqui no Brasil, onde se vende, sem controle (e até por algumas concessionárias), chips, turbos e outros equipamentos para endiabrar o carro.
Quando o assunto é segurança no trânsito, o Brasil é o país do salve-se quem puder. O governo até finge que se preocupa com o tema e promove a Semana da Segurança no Trânsito. Coerente: se alguma atenção é voltada para o assunto, é no máximo durante uma semana por ano...
Nossos nobres deputados e senadores, por exemplo, jamais votaram uma lei relacionada à segurança que não tenha sido por interesse de lobistas a serviço de poderosas empresas de olho nos milhões que vão faturar com o equipamento. Foi exatamente assim a aprovação da lei que tornou obrigatório o airbag. Ninguém discute sua importância, mas como explicar então que outros equipamentos igualmente relevantes para a segurança, mas de pequeno valor e sem interesse ($$$) de montadoras e fornecedores, jamais foram objeto de preocupação dos parlamentares?
É rara, no país, a fiscalização de equipamentos não homologados (ou proibidos). Faróis de xênon, por exemplo, só podem ser utilizados em automóveis equipados com eles na linha de montagem. Caso contrário, tornam-se perigosos, pois ofuscam quem vem no sentido contrário. Mas continuam equipando ilegalmente milhares de automóveis.
Filmes que escurecem vidros devem obedecer a percentuais mínimos de transmitância luminosa. Mas quase não existem aparelhos próprios para verificar seu enquadramento na legislação, e mesmo muito mais escuros do que o permitido, continuam aplicados nas janelas, prejudicando a visibilidade do motorista. À noite e com chuva, quase nada se enxerga.
As telas de DVD só podem ser instaladas para os passageiros do banco traseiro. No painel frontal, só as que se desligam quando o motor é ligado. Alguém já teve que provar isso para algum policial?
O comércio independente oferece livremente toda a sorte de equipamentos, legais ou ilegais. Até porque o Brasil é dos poucos países em que não se exige a homologação nem a certificação de nenhum item colocado à venda no mercado de reposição. É só montar um fabriqueta de fundo de quintal, preparar uma embalagem bonitinha, oferecê-lo barato no comércio paralelo e dane-se a integridade do carro e seus ocupantes. Pode ser roda, fluido de freio ou barra de direção. Assim é que se lida com segurança no Brasil.
Papo de Roda - Salve-se quem puder
A exigência legal de que um carro tenha freios e suspensão também redimensionados para que o motor seja repotenciado soa como piada no Brasil