A presidente Dilma demonstrou sensibilidade ao cancelar seus compromissos internacionais e voar para Santa Maria (RS) horas depois da tragédia que abalou o país. E ficou emocionada ao se encontrar com amigos e familiares dos mais de 200 jovens que morreram no incêndio da boate.
Foi muito oportuno o comentário da jornalista Denise Rothenburg, nossa colega de jornal, num texto sobre o assunto. Ela observou que, recentemente, seu filho iria participar de uma excursão com a turma da escola. Ela entrou no ônibus para verificar seus dispositivos de segurança. Estrutura dos bancos, cintos, extintor de incêndio, saída de emergência etc. O motorista olhou enviesado para o monitor que acompanharia a turma como que a dizer: “O que esta doida está fazendo aí?”
Denise observou, com muita propriedade, que deveria haver mais “doidos” no Brasil. Mais gente preocupada com segurança e prevenção. Que agora, sempre depois do leite derramado, a legislação vai ficar mais rígida em locais fechados, como as boates. Mas a severidade da lei só se efetiva com a presença de fiscais “doidos” para exigir seu cumprimento.
A presidente Dilma chorou em Santa Maria. Mas nem ela nem nenhuma outra autoridade chora diante das 200 vidas que se perdem a cada dois dias no Brasil em acidentes de trânsito. É só fazer as contas: são 40 mil mortes por ano, mais de 100 por dia. É a mesma contabilidade macabra de um incêndio na Boate Kiss a cada dois dias, mas que já virou rotina e não sensibiliza mais ninguém.
O brasileiro não se preocupa com segurança, e quem o faz é “doido”. Outro dia, meu filho viajou num ônibus da Cometa de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro. Antes da viagem, chamou o motorista, pois sua poltrona não tinha cinto de segurança. Ele disse que só passando na garagem da empresa para instalar o cinto ou trocar de ônibus. Outros passageiros protestaram e se ofereceram para ceder sua poltrona para o “doido” do meu filho. Para não “atrasar” a viagem. Ele negou e o motorista foi para a garagem substituir o ônibus por um com cintos em todas as poltronas.
Dezenas de ônibus se acidentam nas estradas e passageiros morrem porque são atirados para fora ou esmagados em seu interior. O mesmo no banco traseiro do automóvel que capota ou sofre um violento choque frontal. Mortes que poderiam ser evitadas com a utilização do cinto.
Mas, como acidente “só acontece com os outros”, nem o passageiro se preocupa nem tem fiscal “doido” para fazer cumprir a lei. E então, na boate ou na estrada, os sinos dobram por todos nós, pois “quando um homem morre, morremos todos, pois somos parte da humanidade”.