Um jornalista norte-americano especializado em automóveis observou recentemente, com muita propriedade, a inversão dos modelos comercializados nos EUA. “Três ou quatro décadas atrás, nossos carros tinham motores de oito cilindros (V8) e caixas de três marchas. Agora, estão anunciando motores de três cilindros com câmbios de oito marchas”.
É engraçado, mas pura verdade. Mais do que isso, é um fenômeno que indica a preocupação das fábricas em desenvolver veículos mais eficientes. O melhor retrato disso é o próprio mercado norte-americano, ávido durante muitas décadas por grandes automóveis e picapes que eram verdadeiras “esponjas”. Quem comprava um picape com motorzão V8 leva hoje um V6 com o mesmo desempenho. Os de seis cilindros perderam dois deles. E já se anunciam motores tricilíndricos para substituir os tradicionais de quatro que equipavam os carros compactos. No câmbio, é o contrário: quanto mais marchas, melhor desempenho e menor consumo.
Mas reduzir cilindros e aumentar engrenagens da caixa é apenas um dos ingredientes na receita para ganhar eficiência. A injeção direta de combustível, as turbinas, o sistema stop-start (liga e desliga o motor) e outras tecnologias resultaram em níveis de consumo e emissões impensáveis num passado não muito distante. E que provocou uma inesperada reação do motorista norte-americano: ele passou a comparar custo e rendimento entre automóveis híbridos e convencionais.
Um híbrido roda mais de 20 quilômetros por litro de gasolina, mas os motores a combustão estão se aproximando dessa marca. Além disso, o híbrido é pelo menos cinco mil dólares mais caro, o que leva o cliente a fazer as contas: quantos quilômetros tenho que rodar para compensar o que pago a mais para adquiri-lo? E, na ponta do lápis, essa quilometragem vai aumentando à medida que o motor a combustão vai ganhando eficiência. Na Europa, já tem compacto da Ford que roda 30 quilômetros por litro de diesel.
O grupo VW acaba de desfechar um golpe certeiro nos híbridos ao lançar o motor cylinders on demand. A expressão inglesa quer dizer que seus quatro cilindros só operam quando necessário. Quando a carga se reduz, os dois internos são desligados. Essa ideia já foi aplicada nos grandes V8, que tinham dois ou quatro cilindros desligados quando não eram necessários. Mas jamais num pequeno quatro cilindros com sofisticado sistema eletrônico que liga ou desliga dois deles de forma quase imperceptível.
E os híbridos? A Toyota, líder mundial dessa solução com o Prius, já vendeu mais de dois milhões de unidades no mundo, a maioria nos EUA. Suas vendas caíram em 2011, mas a empresa põe a culpa no tsunami japonês. E não concorda que os híbridos estejam ameaçados pelos modelos convencionais, nem que seus clientes só compram o Prius pelo status de “verdes”. Será?
Papo de Roda - Na ponta do lápis...
A evolução dos motores a gasolina está provocando uma inesperada reação do motorista norte-americano em relação aos automóveis híbridos