UAI

Papo de Roda - Inconfidências germânicas

A conversa de abobrinhas acabou trazendo à tona o oceano que separa o mercado europeu do brasileiro

Publicidade
Foto:

Outro dia, num lançamento da Volkswagen, eu estava à mesa com Jutta Dierks, vice-presidente comercial da Volkswagen do Brasil. Uma simpática alemã que chegou há poucos meses e que ainda não fala o português (mas está aprendendo rapidamente), porém domina com maestria o assunto automóvel.

E conversávamos abobrinhas sobre os diversos mercados mundiais, as diferenças de costumes e exigências dos consumidores, as atitudes dos fabricantes etc. Eu estava interessado em descobrir se a nova geração do Golf (a sétima, que será lançada no fim do próximo ano na Europa) iria finalmente substituir o modelo produzido no Brasil (ainda na quarta geração) e puxei assunto. Ela se esquivava de revelar qualquer coisa (claro que foi bem treinada pelo esperto André Senador, diretor de comunicação da empresa) e me perguntava, em resposta, para qual time de futebol eu torcia. Eu voltava ao Golf. Ela contornava então com elogios à música popular brasileira, que acabara de conhecer: “Que ritmo, como é melodiosa!” E eu de volta ao pulo de quase três gerações entre o modelo brasileiro e o alemão...

Como não saía mesmo cachorro daquele mato, eu relaxei e parti para variações sobre o tema. Quis saber como a Volkswagen contornou, em 2008, um problema complicado ao lançar a sexta (e atual, lá) geração do Golf: o carro era carregado de tecnologia e chegou por um preço exagerado, prejudicando suas vendas. Frau Jutta deu uma aula sobre readequação mercadológica de um produto e resumiu explicando que, no frigir dos ovos (ou dos euros), a fábrica decidiu oferecer o ar-condicionado sem custo adicional. Num mercado superdisputado como o europeu, foi o bastante para levar novamente o Golf à liderança nas vendas. Eu então comentei que a Volkswagen pode ter absorvido o prejuízo da cortesia, mas perguntei se os milhares de consumidores que compraram o carro logo depois do lançamento (pagando pelo ar) absorveram sem protestar a promoção da fábrica. “É claro”, ponderou Frau Jutta, “nós devolvemos para todos eles a grana desembolsada pelo opcional.” Nessa, o André falhou, pois a simpática alemã acabou trazendo à tona, na conversa de abobrinhas, o oceano que separa o mercado brasileiro do europeu. Aqui, nem pensar em reembolsar quem comprou um carro na véspera de uma promoção. Como, recentemente, a da Ford, que reduziu o preço do Fiesta para e-xa-ta-men-te o do chinês JAC J3. Será que um dia essa moda pega por aqui?

Em tempo - O futuro do nosso Golf? Thomas Schmall, presidente da VW do Brasil, acabou deixando nas entrelinhas que, entre 2013 e 2014, a sétima geração do carro estará no Brasil. Produzida aqui ou na Argentina ou México, países com que temos acordos comerciais que isentam os automóveis do imposto de importação.