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Redução do IPI: prorrogação no último minuto do segundo tempo leva empresário do setor ao cardiologista

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Disse outro dia o diretor de uma concessionária de automóveis que nada é mais emocionante do que ser empresário no Brasil. Outro executivo, um italiano que chegou no final do ano passado para dirigir uma montadora francesa, também foi bem-humorado ao criticar o país: “Já aconteceram mais coisas no Brasil em cinco meses do que na Europa em cinco anos”.

Em setembro do ano passado, quando teve início o festival de mal articuladas decisões para atender o poderoso lobby da indústria nacional, quem levou a primeira paulada foram os importadores, contemplados com aumento de 30 pontos percentuais no IPI. Vários deles decidiram cancelar investimentos aqui e o governo correu para azeitar as engrenagens do “pacote”. Conseguiu segurar alguns deles. Mas os da JaguarLandRover disseram não entender a “falta de clareza das políticas do país” e foram-se... Outros, como os da BMW e Audi, trocaram a cachaça pela tequila e estão fincando pés no México.

Por falar em tequila, não satisfeito em dificultar o desembarque dos importados, o governo decidiu dar uma paulada também nas fábricas: preocupado com o desequilíbrio do acordo com o México, decidiu estabelecer um regime de cotas e desarranjou todo o planejamento industrial e comercial das nossas montadoras nos dois países.

Depois de todo esse imbróglio, foi anunciado um novo “pacote” em abril para estimular o desenvolvimento tecnológico do setor nos próximos cinco anos, reduzindo o IPI das empresas que cumprissem metas de redução de consumo e emissões, maior eficiência e segurança nos automóveis. Se conceitualmente correto, o novo regime automotivo é falho em vários itens. Entre eles, para atender o choro das autopeças, uma excessiva proteção aos fornecedores locais de componentes, desestimulando seu desenvolvimento tecnológico e redução de custos para competirem em termos internacionais.

Enquanto isso, os donos de concessionárias também foram “presenteados” com noites de insônia pelo governo. As duas pauladas nas importações tornaram muito complicada a concorrência dos asiáticos nos segmentos de compactos e médios. Além disso, medidas do governo para restringir o crédito ao consumidor anunciadas no final do ano passado foram extremamente eficientes e provocaram contínuas quedas de vendas desde o início de 2012. A pá de cal no mercado foram as financeiras sentindo no fígado a inadimplência gerada pelo crédito farto concedido nos dois últimos anos. O declínio de vendas de importados e nacionais levou muitos concessionários a repensar seus planos de investimentos.

Com pátios lotados e resultados minguados, o setor já reduzia as previsões de produção e vendas para 2012 quando o governo anunciou, no final de maio, uma provisória redução de impostos – válida até agosto – para reanimar o mercado de carros novos.
Em que aposta o leitor: no início de setembro as vendas entram novamente em queda livre ou, no último minuto do segundo tempo, o governo anuncia a prorrogação do jogo?
É ou não é emocionante ser empresário no Brasil?