Tem um quê de hipocrisia esta “Semana Nacional do Trânsito”, que vai até terça-feira, um registro exato do tempo dedicado ao tema: uma semana. Findos os sete dias da campanha, volta tudo à estaca zero na segurança veicular, educação no trânsito, policiamento rigoroso nas ruas e estradas, respeito às leis, formação efetiva dos condutores e educação dos pedestres.
Somos campeões mundiais em mortes no asfalto. O trânsito é uma tragédia nacional que mata quase 50 mil brasileiros por ano, número superior ao de muitas guerras e que resulta em custos elevados de atendimento médico e queda na produção, além dos prejuízos materiais. Se não fosse pela preservação da vida e integridade do cidadão, já valeria a pena reduzir os acidentes, até por uma questão econômica...
A rigor, segurança veicular só existe no Brasil em função do interesse em faturar do governo e de empresários. Quem é hipócrita de negar que a presença de radares para registro de velocidade tem a finalidade básica de engordar os cofres públicos? O prezado leitor tem conhecimento de que as prefeituras já incluem no orçamento anual centenas de milhões de reais provenientes dessas infrações?
Que ninguém se iluda: a lei que tornou obrigatória a presença de airbags em nossos automóveis (a partir de 2014) não foi uma preocupação dos políticos, mas fruto de poderoso lobby de um fabricante das bolsas infláveis. Outras medidas de segurança que não representam faturamento não são adotadas, pois os empresários não acionam seus lobistas para o habitual “poder de convencer” deputados e senadores.
Contam-se nos dedos as cidades brasileiras onde a faixa de pedestre funciona como tal. A cadeirinha infantil reduziu em 40% as mortes de crianças nos automóveis, mas, nem assim, a legislação foi devidamente regulamentada e elas não são obrigatórias... acreditem, nem nas vans escolares. Se a faixa de pedestre não é respeitada pelo motorista, muito menos o próprio pedestre respeita as regras básicas de trânsito.
A formação de condutores é tão caótica que, recentemente, o presidente da associação das autoescolas de São Paulo declarou que “os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem”. Os cursos se limitam a ensinar como conquistar a carteira de habilitação, nada além. E tome milhares de novos motoristas, despreparados para enfrentar chuva, neblina e as perigosas rodovias, provocando mais e mais acidentes.
Dizem que quanto menos eficiente a fiscalização e o policiamento de um país, mais severas suas leis, numa tentativa de compensar a falha com o rigor do papel. Melhor exemplo disso é a Lei Seca: de que adianta se não tiver a polícia na rua?
E de que adianta uma Semana do Trânsito se o tema é abandonado nas 51 seguintes?
Papo de Roda - Estaca Zero
A rigor, segurança veicular só existe no Brasil em função do interesse em faturar do governo e de empresários