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Papo de roda - Enrascada

O governo está numa sinuca de bico: mudar o percentual de etanol na gasolina deixou de ser solução, pois faltam ambos no mercado

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O governo até arrepia quando o tema combustível entra em pauta.

Na última entressafra da cana, o preço do açúcar, que subiu no mercado internacional, e um volume ainda maior de carros flex circulando resultaram na falta do etanol e na elevação de seu preço nos postos. Quando o motorista fez as contas e percebeu não ser vantajoso abastecer com álcool e migrou para a gasolina, outra surpresa: ela também ficou mais cara. Acredite se quiser: a Petrobras importou centenas de milhões de litros de ambos os combustíveis para suprir o mercado. E a estimativa é de importar mais de um bilhão de litros só de etanol neste ano.

Dá para entender? Que país é esse que teve seu ex-presidente rodando o mundo com a bandeira do etanol em punho e instigando sua equipe comercial a fechar contratos de exportação para, no ano seguinte, ser obrigado a importá-lo para atender a sua própria demanda?

A situação deste ano foi ainda pior, pois houve uma quebra na safra da cana, por problemas climáticos e falta de investimentos na lavoura. Não faltam máquinas para moer a cana: o que falta é a própria...

Só mesmo diante da falta de combustível e do caos nos preços foi que o governo se preocupou. E decidiu, às pressas, reduzir o mínimo teórico de etanol anidro (que vai misturado na gasolina) de 20% para 18%. A razão da canetada da presidente: a legislação determinava que a gasolina poderia receber percentuais de etanol variando de 20 a 25%. Sobra álcool? Tasca 25% na gasolina. Falta? Bota só 20%. Agora, se faltar mais ainda, vai dar para misturar apenas 18%.

Mas é solução atabalhoada. Primeiro, porque os motores são calibrados para queimar gasolina que contenha de 20 a 25% de etanol. A redução para 18% ainda não foi testada pelo mercado: como saber que ela não provocaria engasgos nos motores? Por via das dúvidas, decidiu-se manter a mistura, por enquanto, em 25%. E reduzir, se necessário, para 20%.

Em segundo lugar, a ideia da redução do percentual de etanol na gasolina foi para atenuar sua escassez. Mas não se levou em conta que, apesar da nossa %u201Cautossuficiência%u201D em petróleo, falta também a gasolina e já foram importados milhões de litros este ano. E com previsão de novas importações nos próximos meses, pois as refinarias operam no limite de sua capacidade.

O governo está numa sinuca de bico. Depois de anos exportando gasolina e de apregoar pelo mundo as vantagens do etanol como solução alternativa aos combustíveis fósseis, ele se vê forçado a importar ambos. E torcer para que o pré-sal produza logo o petróleo para se safar dessa enrascada.