Foi criado no Uruguai o Latin NCAP para avaliar a segurança dos automóveis comercializados na America Latina e Caribe. A entidade apresentou, no fim de novembro, os resultados da segunda fase de crash-tests a que foram submetidos oito modelos vendidos no mercado brasileiro. Nossos “populares” foram todos reprovados, pois ganharam apenas uma estrela entre as cinco possíveis. E a imprensa deitou e rolou a partir desses resultados, acusando as fábricas pela insegurança de nossos automóveis.
Não é bem assim: Celta, Corsa, Ford Ka e Novo Uno foram testados sem airbags, sob a justificativa de que o equipamento sobe muito o preço final do carro e que é pequeno o percentual de vendas desses modelos com as bolsas infláveis. Mas as fábricas têm culpa no cartório, pois algumas chegam ao absurdo de incluir o airbag num pacote de equipamentos. Obriga o interessado no equipamento a levar também, por exemplo, o ar-condicionado.
Além disso, muitos motoristas não ligam a mínima para a segurança e equipam seus automóveis com bancos em couro, rodas de alumínio, direção hidráulica e CD Player, que custam muito mais que freios ABS ou airbags.
Até a concessionária é culpada: ela desanima o cliente de encomendar o carro com equipamentos de segurança alegando meses de demora por se tratar de uma “encomenda especial”. O freguês acaba levando o modelo que está no pátio, para alegria do vendedor, que fatura sua comissão na hora.
Outro ponto para lá de questionável nos resultados dos testes é comparar nosso automóveis sem airbags (que, juntamente com os freios ABS, serão obrigatórios em 2014) com os europeus, todos dotados do equipamento. Queria ver como os carros do Primeiro Mundo se sairiam quando jogados numa barreira de concreto a 64 km/h sem airbags...
Quanto aos automóveis médios, foram testados o Nissan Tiida, Ford Focus e Chevrolet Cruze, todos com os airbags frontais. E todos aprovados com quatro estrelas. Porém, o Latin NCAP está precisando de freios ABS, pois derrapou feio ao omitir que o Cruze não foi produzido no Brasil, mas na Coreia do Sul. O projeto pode até ser o mesmo, mas qualquer diferença entre materiais empregados, sistemas de manufatura e de montagem podem interferir no resultado. Para melhor ou para pior...
Finalmente, não se pode concluir sobre a segurança de um automóvel somente com os testes de segurança passiva (crash-tests). Na Europa, contam pontos também os equipamentos de segurança ativa como freios ABS ou de estabilidade controlada eletronicamente (ESP). Ainda melhor do que proteger os ocupantes no caso de uma batida é evitar a batida...