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Papo de Roda - Cana & abacaxi

O Brasil discute agora "acreditem se quiser" a possibilidade de importar etanol e gasolina

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O governo passou uma rasteira no brasileiro quando o convenceu a aderir ao etanol. Foi na década de 1970, quando se instituiu o Pro-álcool. Teve até campanha publicitária: "Carro a álcool — Você ainda vai ter um". Poucos anos depois, no fim da década de 1980, 97% dos automóveis vendidos no Brasil queimavam o combustível derivado da cana. Mas não demorou muito para que os motoristas amargassem filas quilométricas nos postos desabastecidos de etanol. Muitos sugeriram aos marqueteiros de Brasília uma nova campanha: "Carro a álcool — Você ainda vai ter esse abacaxi".

O etanol sumiu porque subiu o preço do açúcar no mercado mundial; terminava mais uma safra da cana e o governo se fez de desentendido com a enrascada.

Infelizmente, 20 anos depois a história se repete: o dicionário do governo continua não contemplando seus burocratas com a palavra "planejamento". O açúcar novamente se valorizou, voltou a entressafra (como sói acontecer anualmente...) e o etanol tornou a faltar. Dessa vez, o pulo do gato foi o carro flex: a eletrônica dá ao motorista a opção da gasolina, evitando as filas nos postos.

O Brasil, país que tem uma das maiores áreas agricultáveis do mundo e que exportava a gasolina que sobrava nas refinarias, discute agora – acreditem – a possibilidade de importar etanol e gasolina.

Bolso
Dessa vez não teve fila no posto, mas o preço do álcool subiu às alturas e o da gasolina veio no vácuo. Mais uma vez, a conta mais pesada sobra para o bolso do pobre, que ainda roda com os milhões de carros velhinhos movidos exclusivamente a etanol. Ao contrário do motorista mais abonado (a bordo de um flex), ele não tem a opção de fazer as contas e decidir pelo combustível que pesa menos no seu orçamento.

Dólar Por falar em importação, a super valorização do real está provocando complicadas distorções no setor automobilístico. Para proteger o automóvel brasileiro, o importado paga um imposto adicional de 35%. Ora, essa proteção já foi para o espaço há tempos com a desvalorização do dólar, que deveria, segundo os economistas, estar cotado próximo a R$ 2,50. Então, o preço que o imposto de importação deveria empurrar para cima, o dólar faz o contraponto e o joga para baixo.

Uma festa para os importados, que atraem o consumidor com preços superatrativos.

Real O dólar desvalorizado é favorável na ponta do consumo, mas um desastre no caminho inverso, pois não tem como compensar a montanha de reais que perde o exportador quando vende seu produto no mercado externo. Mais complicada ainda é a situação das nossas fábricas de autopeças: as montadoras já iniciam o inevitável processo de importação de componentes, que desembarcam por aqui também com preços competitivos – às vezes imbatíveis – com os nacionais.