UAI

O sorvete da Toyota

Depois de meses de pesquisa, engenheiros da Nasa concluíram que a aceleração espontânea do Corolla não é provocada por interferência eletromagnética

Publicidade
Foto:

Na década de 1960, o dono de um Buick nos EUA reclamou na concessionária de um problema suigeneris: no verão, quando saía com os filhos para tomar sundae, o motor se recusava a pegar depois que pediam o sabor baunilha. Mas ligava fácil quando era de fruta ou chocolate. A oficina duvidou de sua sanidade mental, mas testou o carro e disse que estava em ordem. Ele acionou várias vezes a área técnica da General Motors, mas não teve solução nem o levavam muito a sério...

Um dia, de saco cheio, ele escreveu para o presidente da General Motors e contou o problema. O presidente se interessou pelo assunto e pediu uma análise técnica do caso. Mandaram então um engenheiro da Buick acompanhar o %u201Clouco%u201D em suas idas à sorveteria. Ele concluiu que o Buick realmente não ligava quando os meninos pediam sorvete de baunilha e pegava sem problema quando o sabor era de limão ou chocolate. Mas percebeu também que, como o sundae de baunilha era pouco solicitado e que tinha de ser preparado na hora, demorava muito mais para ser servido. Abriu o capô do Buick e descobriu que o motor não pegava devido ao vapor, uma formação de bolhas no circuito de gasolina provocada pelo extremo calor do motor e da temperatura ambiente. Quando o sorvete era servido mais rápido, não dava tempo de se formar as bolhas...

Faz lembrar a história da aceleração espontânea do Corolla. No ano passado, a Toyota fez recall de milhões de carros no mundo porque o motor subia de giro sem que o motorista tivesse pisado no acelerador. Primeiro, a fábrica mandou trocar os tapetinhos. Depois substituiu o mecanismo do pedal. Mas alguns Toyotas insistiam em acelerar sozinhos. Engenheiros da Toyota pesquisaram então o sistema eletrônico do carro. Nada. Desconfiado de que os japoneses eram incompetentes ou estavam escondendo algum problema, o governo americano criou uma comissão de engenheiros do NHTSA (órgão de segurança rodoviária) e da Nasa para avaliar possíveis interferências eletromagnéticas na injeção eletrônica do carro.

No início de fevereiro, depois de meses de pesquisas, a Nasa concluiu que não tem nada de errado com o sistema eletrônico da Toyota, livrando os japoneses de qualquer culpa no cartório. Um alívio para a marca, que comeu o pão que o diabo amassou durante meses. Teve sua imagem arranhada, suas ações despencaram, as vendas caíram e ela perdeu o primeiro posto no ranking da indústria automotiva mundial.

A aceleração espontânea desapareceu até porque a Toyota incluiu um sistema eletrônico de segurança que não permite mais a aceleração do motor se o freio for acionado.

Eu, se estivesse à frente da Toyota, diante de outro problema cabeludo como esse, chamaria aquele engenheiro da GM que descobriu por que o Buick não pegava quando os meninos pediam sorvete de vanilha...