O pescador, em seu barco, arremessa a linha e aguarda, com paciência, que o peixe morda sua isca, enquanto uma senhora idosa dirige seu automóvel até o supermercado.
As duas cenas estão - aparentemente - distantes de motores roncando na pista e a agitação nos boxes que caracterizam a Fórmula 1. Mas muito mais próximas do que imagina nossa vã filosofia...
Alguns dos aperfeiçoamentos desenvolvidos pelas equipes da F-1 são também aplicados nos automóveis de série. Essa é a parte óbvia da influência dos carros de corrida sobre os que você dirige no dia a dia.
Materiais mais leves e resistentes, freios mais eficientes, novos sistemas de caixas automáticas, carrocerias mais aerodinâmicas e novos compostos de borracha para pneus são algumas das novidades que migraram das pistas para as ruas. Aumentaram desempenho, resistência e segurança, além de reduzir consumo e emissões.
A velha senhora?
Apesar de seu carro não ter caixa automática, ela dirige com mais conforto, pois não tem pedal de embreagem e nem precisa mais passar as marchas.
É o câmbio automatizado, desenvolvido na Fórmula 1 e já adotado por várias fábricas, inclusive no Brasil: a GM (Meriva), a Fiat (Stilo e Linea) e a Volkswagen (acaba de chegar no VW Polo) já oferecem esse câmbio, que é mais leve e barato que o automático convencional.
E o pescador?
É a parte menos óbvia da aplicação de tecnologia desenvolvida nas pistas.
Exemplo?
O mesmo princípio de redução de borracha nos pneus da Fórmula 1 (sulcos na banda de rodagem) foi utilizado no desenvolvimento de uma linha de pesca onde o perfil redondo foi substituído por outro irregular, lembrando uma estrela. Assim, há uma redução de atrito quando ela está enrolada no molinete, o que facilita e acelera o seu arremesso.
Um material desenvolvido pela indústria aeronáutica e aperfeiçoado pela engenharia da Fórmula 1 é a fibra de carbono. É caro, porém muito mais leve e resistente que os metais (aço e alumínio) usados hoje na estrutura e na carroceria dos automóveis. Ela está sendo usada em superautomóveis esportivos, nos quais o desempenho fala mais alto que o custo final ao consumidor. Mas também em outras dezenas de aplicações: a fábrica de bancos Recaro, por exemplo, desenvolveu poltronas para a classe econômica de aviões com uma redução de 2,5 centimetros na espessura. Pode parecer desprezível, mas talvez o suficiente para evitar que o passageiro esbarre o joelho no encosto da frente.
Além do desenvolvimento de novos materiais, a eficiência das equipes de Fórmula 1 durante a parada do carro no box está se tornando referência para o treinamento de equipes que devem agir com rapidez e segurança.
O pescador, a velhinha e a F-1
A novidade desenvolvida nas pistas vai parar no carro que você dirige. Mas essa é a apenas a parte mais óbvia da transferência de tecnologia