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Na base da canetada

Impor restrições ao transporte individual só faz sentido em cidades que oferecem opcionalmente um transporte coletivo eficiente e confortável

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Existem várias alternativas para reduzir o congestionamento e a poluição no Centro da cidade. O pedágio urbano é uma delas: o veículo só entra na área central pagando uma taxa. Foi o plano estabelecido em Londres, em 2003, para desestimular o tráfego na região central e ampliar o uso de coletivos.


Outra opção (adotada em São Paulo) é o rodízio de automóveis: cada dia da semana se proíbe a circulação dos carros com determinado final de placa. A medida foi criada em 1995 sob o pretexto de baixar a poluição. Entretanto, dois anos depois, o foco mudou: o rodízio deixou de ser durante todo o dia e foi abreviado para três horas na manhã e outras três à tarde no sentido de reduzir congestionamentos. Os níveis de poluição (ozônio e poeira) se estabilizaram, mas em níveis elevados. Até porque muitos proprietários de automóveis compraram carros velhos e baratos (e extremamente poluidores) para circular no dia da proibição.


E o rodízio também de pouco adiantou para descongestionar o tráfego, pois o aumento da frota compensou os carros retirados de circulação. Há cerca de dois anos, os especialistas chegaram a sugerir uma extensão do rodízio para dois dias da semana. (Um raciocínio que levaria, a longo prazo e com o constante aumento da frota, a permitir a circulação do carro apenas um dia útil da semana...)


Além do rodízio, já considerado ultrapassado e ineficiente, as autoridades de trânsito de São Paulo imaginaram, no ano passado, estabelecer o pedágio urbano nos mesmos moldes que o de Londres. Mas, impor restrições ao transporte individual só faz sentido em cidades (como as do Primeiro Mundo) que oferecem opcionalmente um transporte coletivo eficiente e confortável, seja o trem, metrô ou ônibus. No Brasil, o motorista é instado a deixar o carro na garagem. Mas como vai para seu local de trabalho com um mínimo de conforto e eficiência?


Outra modalidade inteligente de reduzir os índices de poluição urbana é a adoção de zonas de restrição para veículos com elevado teor de emissões. Quase duzentas cidades na Europa já proíbem o tráfego de veículos em zonas centrais se não ostentarem no para-brisa um selo que os classificam como de baixa emissão de gases poluentes. São medidas que desagradam à população ao serem estabelecidas, mas que acabam gerando simpatia quando se divulgam seus resultados positivos.


Implantar o rodízio é fácil, basta uma canetada do prefeito. Mas cidades administradas por governantes competentes nem precisam dessa punição ao motorista, pois oferecem opções decentes de transporte público. Além do mais, é uma solução que –  a longo prazo – não resolve os problemas de congestionamento nem de poluição.