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Mobilidade: o que esperar dos transportes no Brasil do futuro?

Durante décadas, a falta de investimentos em ferrovias e hidrovias condenou o setor de transportes a se mover em grande parte pela malha rodoviária do país

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A malha ferroviária no Brasil foi sucateada e o que mais se vê são estações abandonadas e trilhos tomados pelo mato
A malha ferroviária no Brasil foi sucateada e o que mais se vê são estações abandonadas e trilhos tomados pelo mato Foto: A malha ferroviária no Brasil foi sucateada e o que mais se vê são estações abandonadas e trilhos tomados pelo mato

O que dizer de um país com dimensões continentais como o Brasil que, em pleno século 21, ainda transporta a maior parte de sua produção por rodovias, muitas delas em condições precárias? É inadmissível constatar que o país ainda enfrenta problemas graves de transporte, seja de carga ou passageiros, limitando e dificultando a mobilidade do cidadão que paga muitos impostos e não vê retorno em investimentos. Por que será que é tão difícil imaginar um Brasil com ferrovias atravessando de Norte a Sul e hidrovias fazendo valer os recursos naturais do país?

São perguntas não muito difíceis de responder, pois esses problemas se arrastam há décadas no Brasil. Muito se fala em fazer e pouco se faz. Na prática, o que se vê é que o setor de transportes no país está sempre atrelado aos interesses de alguns, que acabam travando a evolução da mobilidade, impedindo que meios mais modernos e eficientes cresçam.

A situação atual da malha ferroviária no Brasil é um exemplo clássico do poder do lobby de alguns setores que não querem deixar que outros se sobressaiam. A primeira ferrovia do país foi construída em 1854 e ligava o Porto de Mauá à cidade de Fragoso, no Rio de Janeiro. Servia para escoar a produção de café e outros produtos.

Com o passar dos anos, as ferrovias se alastraram por diferentes regiões do país, levando grãos, minério e produtos manufaturados aos portos. Havia também o transporte de passageiros por trens, que tinha o seu charme e contribuía para a mobilidade do cidadão brasileiro entre cidades e estados. Mas isso não durou muito tempo, pois, com o crescimento da indústria automotiva no país, a malha ferroviária aos poucos foi sendo sucateada.

Se nos Estados Unidos, no início do século 20, havia cerca de 200 mil quilômetros de linhas férreas, no Brasil, país de dimensões semelhantes, não chegava a 40 mil quilômetros de ferrovias construídas. A produção de carros e caminhões cresceu no país e, com lobby atuante e eficiente, as montadoras convenceram governos que era mais importante investir em rodovias.

Com isso, muitos trechos de ferrovias foram desativados e o transporte de cargas no país foi concentrado nas rodovias, que não suportaram o peso do tráfego e atualmente muitas se encontram em péssimas condições. O transporte de passageiros por trens também foi reduzido, principalmente entre cidades e estados.

Metrô eficiente ainda é realidade para poucos

Mesmo nos grandes centros urbanos, a mobilidade fica limitada em sua maioria aos automóveis, motocicletas e ônibus. Nem todas as grandes cidades contam com sistema de metrô eficiente. Algumas usam o trem de subúrbio como alternativa, mas sem atender a maior parte da população. Nesse caso, o lobby das empresas de ônibus que dominam o transporte público é forte e não permite que a ideia do metrô evolua. Claro que falta também interesse político em investir no setor.

O atual governo anuncia que essa situação deve mudar. De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), existe uma projeção de recursos privados para investimentos no setor ferroviário brasileiro superior a R$ 170 bilhões, com a construção de 12 mil quilômetros de novos trilhos, cruzando 19 unidades da Federação.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “é uma vergonha um país do tamanho do Brasil, que quer ter uma malha ferroviária para facilitar o transporte da sua riqueza, ter que importar trilho de outro país, com a quantidade de minério de ferro que nós temos e a quantidade de siderúrgicas que nós temos”. Ele pediu soluções rápidas para o problema com o objetivo de gerar empregos e ampliar a mobilidade no país.

E se a situação não é boa para as ferrovias, para as hidrovias é ainda pior, pois estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) comprovaram que os recursos destinados a melhorias no setor sequer foram utilizados. Vale lembrar que o transporte hidroviário é uma alternativa barata e menos agressiva ao meio ambiente. Mesmo assim, apenas 5% da carga transportada no Brasil é levada por hidrovias.

Diante desse cenário, fica a dúvida se realmente um dia o problema da mobilidade no Brasil será resolvido. Será que o governo vai resistir à pressão da indústria automotiva para focar no transporte por trilhos? Até o carro elétrico pode se tornar um sonho muito distante se os interesses da indústria petrolífera prevalecerem. O Brasil é o país do lobby, e quem sabe fazê-lo, geralmente, se dá bem.

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