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Mentiras flexíveis

O carro flex é um sucesso, mas estimulou a criatividade dos picaretas e gerou várias "regras" que só confundem os motoristas

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No ano passado, três depois de seu lançamento, os modelos flex-fuel tomaram conta definitivamente do mercado brasileiro. Hoje, apenas alguns raros automóveis nacionais e os importados funcionam só com gasolina.

É claro que uma novidade desse porte, uma tecnologia que interessa a milhões de brasileiros, estimulou a criatividade dos picaretas ansiosos para enfiar a mão no bolso dos incautos. Além, de gerar também várias "regras" sem nenhum fundamento e que servem só para confundir os motoristas.

Picaretagens
A principal é a "conversão" do carro a gasolina para flex. A oficina oferece o serviço por módicos R$ 400 ou R$ 500 e o dono do carro cai na conversa como um pato. O que o mecânico faz é trocar um chip na injeção (ou um sensor de temperatura do motor) para iludir o sistema eletrônico. Há vários problemas nessa operação e a principal é que o carro não foi projetado para receber álcool hidratado no posto. Como ele contém água, a corrosão de vários componentes, como tanque, bomba de combustível, dutos, bicos, é pura questão de mais dia, menos dia.

Além disso, aumenta o consumo e o motor perde desempenho. Ou aumenta o nível de emissões de gases poluentes. Se um dia a inspeção veicular for implantada...

Outro problema é o flex "de mentira": como está aquecida a demanda por usados que queimam os dois combustíveis, lojistas inescrupulosos fazem a “conversão” do carro a gasolina e colam na traseira a plaquinha "flex".

Donos de postos desonestos não deixam por menos e adicionam álcool hidratado à gasolina. Então, quem encosta na bomba para abastecer só com gasolina acaba recebendo uma mistura com percentual de álcool muito maior do que os 22% estabelecidos pelo governo. Se o carro é a gasolina, o dono logo percebe, pois o motor protesta. Mas, no caso do flex, o motor não tosse nem espirra, pois foi projetado para isso mesmo. Mas, se o motorista conferir mais tarde o consumo, vai descobrir que foi enganado, pois o do álcool é bem maior.

Regras
Além das gambiarras, os "conselhos". São inúmeros, todos mentirosos:

O primeiro abastecimento do carro flex tem que ser com gasolina pura;

É conveniente alternar os combustíveis no tanque, usando eventualmente álcool quem abastece sempre com gasolina, e vice-versa;

Se o motor funcionou durante muito tempo apenas com um combustível, só pode passar para o outro de forma gradual;

Motor flex tem maior probabilidade de sujar bicos injetores;

O ideal é usar os dois combustíveis juntos, meio a meio;

O uso do álcool diminui a durabilidade do motor.


A verdade mesmo sobre o motor flex (e que ninguém comenta) é que ele ainda engatinha e tem muito que evoluir. Basta lembrar ainda que nem foi eliminado o ridículo tanquinho de gasolina para partida a frio, prova inconteste de que a tecnologia flex tem muito chão pela frente.