A argola do VW Fox é um perigo e decepa o dedo de quem tenta modificar a posição do banco traseiro. Depois que a imprensa denunciou o problema, houve duas reações tardias em defesa do consumidor.
Em primeiro lugar, da própria Volkswagen, que tinha conhecimento do fato há muito tempo e nada fez. Tivesse a montadora reagido corretamente na época, e não estaria passando hoje por tamanho desgaste de imagem.
Mesmo agora, sua reação não foi das melhores, muito pelo contrário. A Volkswagen não admite culpa e se defende com o argumento de que o manual do motorista explica cada passo da operação. De que no banco há uma etiqueta alertando que a operação pode ser perigosa, se não forem seguidas as instruções do manual. E que, por isso mesmo, não reconhece problema de segurança, nem a hipótese de recall.
Se é assim como diz, deveria ter demonstrado coerência, rigor germânico em sua posição e não ter cedido diante da pressão da imprensa e do governo.
Mas se perdeu no exato momento em que decidiu oferecer - "aos interessados" - um anel de borracha, para envolver a argola sinistra e evitar a possibilidade de acidente.
Nessa contraditória reação, a Volkswagen confessa um erro no projeto da peça e reconhece que deveria ter realizado o recall para corrigir o problema. Custaria muitas vezes menos do que o incalculável desgaste de imagem que sofreu com o episódio.
A segunda manifestação tardia foi do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão do Ministério da Justiça, que não faz jus ao nome.
Como de hábito, o DPDC só aparece para desativar a energia elétrica depois que muitos já morreram eletrocutados pelo fio.
Não é a primeira vez que o órgão interpela montadoras, depois de anunciado o recall. Ou depois do fato consumado, como o do Fox. Ele só conquista seus 15 minutos de fama depois que o assunto veio à tona e é fato consumado. Jamais levantou uma questão, descobriu uma fraude ou um recall dissimulado, na calada da noite.
Nunca marcou presença, para detectar e proibir a fabricação ou comercialização de um produto que ponha em risco a segurança do brasileiro.
Troller
Por falar em recall, há problemas em todos os tipos imagináveis de componentes de um veículo, mas é a primeira vez que um automóvel tem que ser recolhido (à fábrica) por um defeito impossível de ser reparado. É a Pantanal, modelo picape que a Troller lançou recentemente de seu jipe.
A fábrica cearense, adquirida pela Ford, "espichou" o jipe, para transformá-lo numa picape. O projeto é tão ruim que a Ford decidiu desativar sua produção, assim que assumiu a empresa. Mas a situação era ainda mais negra do que imaginava e foi obrigada a recolher as (poucas) unidades comercializadas da Pantanal, pois - acreditem se quiser - ela trinca o chassi, apesar de sua robusta aparência.
Mea-culpa
Volkswagen diz que o anel do Fox não é caso de recall. Nesse caso, para quê oferecer uma peça adicional de proteção?