O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) tornou obrigatório, em 2005, o curso de direção defensiva e primeiros socorros. Na época, seu presidente era Ailton Brasiliense Pires, o mesmo que exigiu outras aberrações dos motoristas, entre elas o ridículo estojinho de primeiros socorros.
Os lobistas deitaram e rolaram com o sr. Brasiliense. Conseguiram que o extintor de incêndio fosse substituído por outro mais caro e sofisticado, quando se esperava que sua obrigatoriedade fosse eliminada.
O Contran não teve a necessária coragem para enfrentar empresas e associações poderosas e exigir (também nos caminhões em circulação) um para-choque traseiro para evitar a "guilhotinagem" que já matou e continua matando milhares de brasileiros. Estabeleceu os malditos contratos (condenados pelos tribunais de contas) de terceirização para a operação de radares móveis, não na base de horas ou dias de funcionamento, mas por ?produtividade?. Uma fórmula que, em vez de privilegiar a educação do motorista, estimula o maior volume possível de faturamento.
Pois não é que, no mês passado, volta o sr. Brasiliense à tona ? sem sequer se enrubescer ? para condenar a liberação de preços do curso para renovação da carteira de habilitação. Exatamente aquele tornado obrigatório por ele mesmo há cinco anos e que gerou, além de uma formidável fonte de faturamento, todo o tipo de fraudes nas autoescolas.
Enxofre Por falar nisso, outra "autoridade" que perdeu uma formidável chance de ficar calado foi Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, ele defende o diesel acusado de ser o grande vilão da poluição do ar nas grandes cidades. Não nega que ele faz parte do problema, mas alega que a ?liberação de poluentes em sua queima depende não só das características do produto, mas também da tecnologia veicular e da correta manutenção do motor?.
Ora, o eng. Paulo Roberto com certeza não ignora que a Resolução nº 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2002, determinou que a Petrobras desenvolvesse um diesel com menor teor de enxofre a partir de janeiro de 2009. Mas a Petrobras alegou que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) não estabeleceu as características do novo diesel pelo menos três anos antes de entrar em vigor os novos limites de poluição. E também não reclamou publicamente o assunto na época.
Ou seja, os fabricantes de motores a diesel no Brasil não desenvolveram novas tecnologias (reclamadas pelo eng. Paulo Roberto) para reduzir emissões simplesmente porque a Petrobras não disponibilizou o diesel com baixo teor de enxofre em prazo hábil para seus testes.
Todos os omissos ficaram exemplarmente impunes, acordos foram feitos com o Ministério Público e os brasileiros continuam (até janeiro de 2013) a respirar um ar de péssima qualidade e a ter de recorrer à rede hospitalar para tratar de problemas respiratórios provocados pelo diesel com elevadíssimos teores de enxofre. Os menos afortunados, diretamente aos cemitérios.
Hipocrisia
A Petrobras cobra tecnologia moderna dos fabricantes de motores a diesel. Que não foi desenvolvida exatamente porque ela não forneceu o combustível para testes