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Exame virtual

Está mais do que na hora de se recorrer à eletrônica para aperfeiçoar o treinamento dos candidatos à habilitação

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papo de roda - Exame virtual

O motorista está na estrada de pista única atrás de um lento caminhão, num trecho de faixa contínua, pois tem uma curva logo na frente.

Apesar de proibido, pisa fundo no acelerador e vai para a faixa da esquerda com o propósito de ultrapassar o caminhão. Bem no meio da curva surge um automóvel vindo em sentido contrário e a batida é inevitável.

Seria um choque frontal de conseqüencias provavelmente fatais se não fosse tudo uma simulação eletrônica.

O motorista é, na verdade, um aluno de auto-escola numa aula prática ao volante de um sofisticado video game específico para treinamento de direção no trânsito.

O aparelho já existe e funciona experimentalmente em algumas cidades brasileiras. Mas já é obrigatório em vários países.

No fundo, no fundo, o simulador não é muito diferente das centenas de joguinhos eletrônicos que qualquer criança maneja com habilidade. Mas esse, específico para auto-escolas, foi projetado para que o motorista seja submetido às mesmas condições (e situações de risco) que ele enfrenta no dia a dia das ruas e estradas.

Qual é sua reação diante de chuva ou de neblina? Qual o seu comportamento em relação à sinalização rodoviária?

O treinamento atual dos motoristas é mais do que precário. Os exames a que são submetidos os candidatos à habilitação não incluem situações reais do trânsito urbano e nem contemplam as estradas. Um recém-habilitado está teoricamente apto a dirigir numa movimentada rodovia sem que tenha a menor noção dos perigos que eventualmente vai enfrentar. Não tem noção de que, na pista dupla, deve-se manter na faixa da direita e só usar a esquerda para ultrapassar. Não percebe que a luz traseira de neblina não deve ser acionada numa noite de luar para não ofuscar quem vem atrás. Aprendeu teoricamente uma série de regras que nunca teve oportunidade de cumprir na prática.

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabeleceu, há mais de dez anos, que as auto-escolas tenham um "simulador de direção ou veículo estático" para que os alunos se familiarizem com o automóvel. Mas é uma exigência vaga e sem nenhuma objetividade. E contornada pelas auto-escolas com artefatos precários que nada simulam.

A aviação comercial, onde o buraco é lá em baixo, os pilotos passam por exaustivos treinamentos em sofisticados simuladores eletrônicos antes de voar, de fato.

Mas o presidente do Contran, Alfredo Peres da Silva, decidiu levar a sério a questão, estabeleceu convênio com a Universidade Federal da Santa Catarina e os simuladores já estão sendo desenvolvidos para homologação ainda esse ano. Peres da Silva pretende também modificar a lei no segundo semestre de 2010 para tornar obrigatório o uso dos simuladores.

Para que o video game se transforme definitivamente num poderoso instrumento para aperfeiçoar a qualidade dos nossos motoristas, o Contran deveria também estabelecer que, parte dos exames de habilitação seja também realizada com os simuladores. Por mais virtual que seja, é um excelente sinalizador da aptidão do candidato para a prática do dia a dia.