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"Deus é fiel"

Adesivos para o para-brisa vendidos na esquina induzem a imaginar um respeitável fervor religioso do brasileiro. Mas não é nada disso

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Feriadão do 7 de Setembro. Uma boa chance para viajar de carro. Pego a estrada na sexta-feira à noite, mesmo com uma incômoda chuvinha. Poucos quilômetros à frente, ultrapasso um Gol "bolinha", com a suspensão rebaixada. Pouco depois, reparo que ele "cola" na minha traseira e tenta me ultrapassar seja lá como for. Trânsito intenso, ele se arrisca num trecho de faixa contínua. Bem no fim de uma subida, com uma fila liderada por um lento caminhão. Percebi que eram quatro rapazes, do tipo "boys", daqueles com o boné virado para trás...

Logo depois, por estar num carro mais potente e com tração nas quatro (errou quem apostou num utilitário esportivo...), que dá muita segurança no asfalto molhado, me aproximei novamente do Gol. Mas, dessa vez, decidi não ultrapassá-lo para não "provocar" nem correr riscos. Deu para sentir que, ao perceber minha presença, os "boys" aumentaram o ritmo para evitar perder a "pole position".

Eu mantinha uma distância prudente e ainda comentei com a Cristina (ao meu lado) para reparar como o motorista do Gol ia fazendo toda sorte de besteiras e imprudências.

Até que, alguns quilômetros antes do Viaduto das Almas (aliás, Vila Rica...), numa curva em descida e bem apertada para a esquerda, deu a pedra que eu cantei. O Gol escorregou a traseira no asfalto molhado, o "boy" não conseguiu controlar o carro, atravessou a estrada para a esquerda na diagonal, encontrou de frente uma muretinha de concreto no acostamento, levantou voo de quase um metro e aterrissou no barro.

Pela fagulhada que saiu debaixo do Gol, foi provavelmente o fim do feriadão da turma. E deu sorte, pois eram grandes as chances de estar vindo um Scania em sentido contrário. Aí, seria um final bem mais complicado.

O episódio me fez pensar mais uma vez no trinômio motorista-automóvel-estrada, responsável pelos acidentes de trânsito. Na certeza de que os defeitos da máquina e as irregularidades da rodovia são fatores ponderáveis da tragédia no asfalto. Mas também de que a primeira ponta do tripé é a grande responsável pela triste liderança mundial do Brasil nas estatísticas dos acidentes rodoviários.

Adesivo Criatividade (principalmente para o malfeito) continua em alta. Dia desses, o prezado leitor, ao deixar o estacionamento em que parou o carro, poderá encontrar logo na frente um camelô oferecendo adesivos para colar no para-brisa. "Um por R$ 10, três por R$ 20". Todos com frases do tipo "Deus é fiel", "Só Cristo salva" e outras do gênero. Você se rende ao fervor religioso do brasileiro até perceber que não é nada disso. É que os evangélicos não bebem álcool. Então, quando dois automóveis se aproximam de uma blitz, um deles ostentando o adesivo, o policial, esperto, prefere mandar o outro parar para o teste do bafômetro...