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De Jericoacoara a Nova York

Ainda vai passar muita água debaixo da ponte até que os produtos chineses tenham qualidade para concorrer nos principais mercados mundiais

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Semana passada, o Argemiro fazia sucesso na praia de Jericoacoara (Ceará) com seus óculos escuros "de grife": ele vendia rayban, Christian Dior, Adidas e outrasmarcas famosas, todos na faixa de R$ 20 a R$ 30...

Mas vender réplicas não é exclusividade do Argemiro, nem de brasileiros: em Nova York pode-se comprar, no meio da rua, relógio de qualquer marca suíça famosa, de R$ 50 a R$ 100: pode escolher entre Cartier, Omega, Tissot, Bulgari, Baum&Mercier...

Aparentemente, os óculos de Jericoacoara funcionam tão bem quanto os relógios de Nova York. Mas você pode sentir uma dorzinha de cabeça e seu oculista descobrir que foi provocada pelas lentes - nada rayban - do Argemiro. Ou a pulseira do Bulgari de R$ 50 arrebentar, pois faltou o inoxidável ao aço.

Óculos e relógios de mentira são fabricados na China, um país especialista na clonagem de marcas famosas e que cortou de seu dicionário o termo patente. Os chineses chegaram ao cúmulo de clonar automóveis da General Motors, entre outros. Eles são condenados por tribunais internacionais, mas acabam entrando num acordo. Até lá, já aprenderam, dominaram a tecnologia e faturaram o suficiente para desenvolver seus próprios produtos.

Na semana passada, enquanto o Argemiro vendia seus raybans, um concessionário sueco de automóveis desistiu de revender os automóveis chineses Brilliance, bonitos sedãs que competem com Opel Vectra ou VW Passat por pouco mais da metade do preço. Mas foram reprovados no mês passado, quando submetidos a crash-tests na Europa. Nessas simulações, os dummies (bonecos) indicaram que, num acidente de verdade, teriam morrido motorista e passageiros do Brilliance.

Ninguém duvida que os chineses vão acabar conquistando qualidade mínima para competir nos principais mercados internacionais. Mas ainda vai correr muita água debaixo da ponte até eles chegarem lá.

BRILHANTE
Enquanto isso, quem dá aula de tecnologia no lado de cá do mundo continua sendo a Porsche. Ainda que você não entenda bulhufas de mecânica, repare num de seus últimos lançamentos: o modelo 911 na versão GT 2 tem o tradicional motor de seis cilindros horizontais opostos (afinal, a primeira Porsche tinha motor de Fusca...), refrigerado a água desde 1997. A cilindrada é de 3.6 litros e a potência é de impressionantes 530 cv. Uma comparação? A Mercedes- Benz precisou de motor V-12 com 5.5 litros de cilindrada para arrancar a mesma potência (517 cv). A engenharia da Porsche aplicou a fina-flor da tecnologia em motores turbinados para acrescentar 50 "puros-sangue" à tropa. E ainda esnobou redução de 15% do consumo de gasolina.

Não é á toa que fábricas de automóveis como a Ford, GM ou Toyota ganham cerca de US$ 2 mil por unidade que produzem. Outras mais sofisticadas, como a BMW ou Mercedes, lucram um pouco mais, na faixa de US$3 mil.

Enquanto isso, cada Porsche que deixa a fábrica põe no caixa da empresa mais de US$ 10 mil, líquidos...