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De buggy em Noronha

Dei sorte com o meu buggy. Mas Noronha deu azar com sua administração

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Aluguei um buggy no começo do mês em Fernando de Noronha. E me assustei, pois ele funcionava direitinho, o que é muito raro...

Buggy é das coisas mais charmosas sobre rodas. Jeitoso, conversível, tem cara de praia, sol e férias.

Mas conceitos de segurança passam ao largo de seus usuários. Cintos de segurança, por exemplo. Quando tem, é só na frente. E se tivesse no banco de trás, só mesmo de enfeite, pois a graça é ir sentado sobre a tampa traseira, curtindo a vista, o vento, o sol.

E muitas vezes vão dois no banco traseiro mais dois (ou três...) no alto. E dane-se se o limite de quatro passageiros. Mesmo com cintos, eles seriam reprovados no mais elementar teste de segurança.

Mas tem outro problema, o dos montados a partir de automóveis acidentados. Pois as fábricas não só vendem o buggy completo, como também a carroceria em fiberglass para ser montada na oficina ou até em casa.

E aí o perigo é dobrado. Pois sob a casca nova e bonitinha vão os restos mortais de um Fusca ou Brasília acidentados. Com a mecânica caindo aos pedaços. O freio puxa para o lado e joga você para fora da estrada. A direção não tem folga, tem férias...

Incompetência Dei sorte com o meu buggy, mas Noronha deu azar com sua administração. Ela foi mais que bem dotada pela natureza e não fica nada a dever às famosas ilhas gregas. A fauna, a flora, a cor do mar, os mergulhos, os golfinhos, o parque nacional, as praias (entre as mais bonitas do Brasil) fazem de Fernando de Noronha um espetáculo para o turista. E, se as belezas naturais estão sendo bem cuidadas pelo Instituto Chico Mendes, a infraestrutura da ilha é caótica. Ela é um distrito do estado de Pernambuco e (mal) gerenciada por um administrador nomeado pelo governador.

Além de uma estrada asfaltada de 7 quilôemtros, que a corta de cabo a rabo, todos os demais acessos às praias, restaurantes, pousadas e pequenos bairros são uma sucessão de buracos, pedras e lama. O barraco chamado de aeroporto está sendo reformado há anos. A energia elétrica vem de geradores a diesel e falta com frequência. E por que não investir na eólica? Ah, sim: tem uma (uma!) torre com geração de energia eólica. Que se acidentou há dois anos e ainda não foi reparada.

O número de veículos é limitado e paga-se a bagatela de R$ 35 mil pela licença para substituir um usado por um zero-quilômetro. Estímulo aos elétricos também não existe.

Fernando de Noronha é um caso típico de onde não se explora o turismo, mas os turistas. Aluguel de um guarda-sol e uma cadeira na praia : R$ 75.

Algumas de suas pousadas estão entre as mais caras do Brasil. E impostos idem. A ilha é tratada com descaso, displicência e incompetência, apesar de contribuir generosamente para os cofres do governo.