Os números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) não mentem. No mercado brasileiro é cada vez maior a procura por SUVs e picapes, veículos geralmente de dimensões mais avantajadas. Uma opção pouco inteligente para o trânsito das grandes cidades, que necessita cada vez mais de carros compactos para compensar a ineficiência do transporte público e reduzir os impactos ambientais.
Nesta semana, só para ilustrar, a Ram lançou no Brasil a picape 1500 Limited, em duas opções de acabamento e preços que começam de R$ 529.990. Ou seja, um modelo para poucos e com números que realmente impressionam negativamente. A grandalhona tem quase 6 metros de comprimento, pesa cerca de 2,7 toneladas e é equipada com um motor V8 de 400cv, que deve beber mais do que torcida em final de campeonato.
Ou seja, um carro grande, pesado, que consome muito combustível e, consequentemente, contribui para aumentar os índices de poluição. E o mais interessante é que a montadora afirmou que trata-se de um modelo focado no público que quer uma picape para uso urbano, não para o trabalho, e que eventualmente vai ao sítio nos fins de semana.
Claro que estamos falando de um modelo de nicho, que está longe da realidade da maioria dos consumidores brasileiros. Mas é estranho, em pleno século 21, quando se fala tanto em otimizar e humanizar o trânsito nas grandes cidades e diminuir os índices de poluição, ainda se vê lançamentos desse tipo. E o pior é perceber que até os carros compactos estão crescendo.
Se compararmos os chamados carros compactos dos anos 1980 e 1990 com os atuais vamos constatar que eles estão maiores, mais robustos, com mais lata e plástico, e alguns poucos com conteúdo que justifique seus preços exorbitantes. Cresceram e estão ocupando mais espaço nas garagens, ruas e estacionamentos.
Em algumas cidades da Europa, onde a circulação de carros fica cada vez mais difícil e limitada, governos tentam desestimular o uso de carros, cobrando caro por vagas para estacionar na rua. Em Amsterdã, por exemplo, o uso de carro compartilhado já é uma realidade. E olha que na Europa, de uma maneira geral, o transporte público é muito eficiente e relativamente barato.
Nesses países, o uso de carros compactos muitas vezes é a solução. Modelos como o subcompacto Smart e similares são vistos pelas ruas, estacionados em pequenos espaços, em posições diferentes, indicando que esta pode ser a solução para aliviar o trânsito nos grandes centros urbanos em futuro próximo.
No Brasil, o assunto da vez é o carro popular, que volta a ser prioridade do governo que quer aquecer a economia, gerar empregos e permitir que uma parcela maior da população volte a sonhar com o carro zero. Para isso acontecer, as montadoras terão que voltar seu foco para os carros compactos, mais simples, mas não menos seguros.
É preciso entender que grande parte dos usuários de carros usam os mesmos para ir de casa para o trabalho e depois voltar para casa. Em sua maioria, pessoas que trafegam sozinhas no carro, que poderia ficar estacionado na garagem se houvesse uma alternativa digna de transporte público coletivo.
Imaginem o cidadão que compra uma Ram 1500 Limited para usar no dia a dia. Trata-se de uma opção no mínimo pouco prática. Por isso é preciso voltar o foco para os carros compactos, pois a vida moderna impõe limites cada vez mais restritos. Carro deve ser pensado acima de tudo como um meio de transporte prático e eficiente, e não como símbolo de status.
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